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Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.

Uma visita

Era já no fim da tarde quando a moça − muito linda, mas muito aflita −, de nome Francisca Bastos Cordeiro, foi entrando pela porta entreaberta do chalé, seguiu direto ao quarto (antiga sala de costura da casa, ao tempo em que sua dona era viva), onde encontrou, estendido e frágil numa pequena cama de ferro, aquele homem, muito velhinho já, agonizante quase, que lhe fora bom companheiro em noites idas de sua infância, quando com ela jogava o sete e meio e lhe ensinava a recitar poemas na casa de sua avó.
− Vim vê-lo, foi dizendo a moça, inventando uma alegria na voz que lhe disfarçasse a emoção. Estou com muitas saudades suas. E o senhor, não está com saudades de mim?
− Estou, sim − disse o velho, numa voz muito cava e muito triste. Estou com saudade da vida.
No dia seguinte morria Machado de Assis. A tarde era a de 28 de setembro de 1908. A rua era a do Cosme Velho.


(Adaptado de: MELLO, Thiago de. Escritor por escritor − Machado de Assis por seus pares – 1939-2008. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2019, p. 278-279)

As informações que identificam aquele homem, muito velhinho já, agonizante quase, surgem tão somente no fecho do texto. Como efeito desse procedimento,
  • A: a visita comovida da moça se explica plenamente em virtude da celebridade do moribundo, a quem ela foi prestar homenagem.
  • B: reverencia-se melhor a humildade com que um célebre escritor acolhia admiradores de sua importante obra literária.
  • C: toda a visitação acaba marcada pela razão simples da profunda amizade que ligava a moça a um seu velho amigo.
  • D: fica a impressão de que a visitante desconhecia a real importância histórica daquele seu amigo agonizante.
  • E: a declinação do nome completo da moça não deixa dúvida em qualquer leitor quanto a quem seja o doente visitado.

− Vim vê-lo, foi dizendo a moça, estou com muitas saudades suas. E o senhor, não está com saudades de mim?
Transpondo o texto acima para o discurso indireto, ele deverá ficar:
A moça foi dizendo que...
  • A: fora visitá-lo, por estar com muitas saudades dele, se ele também estava com as mesmas saudades suas.
  • B: estou vindo pra lhe visitar, que estou com muitas saudades suas, e se ele também estava com as mesmas.
  • C: tinha vindo para lhe ver, e que estava com muitas saudades dele, tanto quanto ele as tinha por ela.
  • D: fora vê-lo por ter estado com saudades dele, e se o senhor também estava com muitas saudades dela.
  • E: tinha ido vê-lo, que estava com muitas saudades dele, e se ele também não estaria com saudades dela.

Está plenamente adequada a correlação entre os tempos e os modos verbais na frase:
  • A: A moça fora visitar o soberbo escritor em respeito à amizade que desde os tempos de sua meninice cultivasse com ele.
  • B: Foi tocante a sinceridade das palavras que o grande escritor Machado de Assis houvera dito assim que a moça lhe fez aquela confissão.
  • C: Caso não houvesse entre ambos uma antiga e sólida amizade, a cena de despedida não viesse a despertar a comoção final.
  • D: Mal faz a moça sua declaração de saudades e já ouve do mestre as palavras gratas e melancólicas de quem da vida se despede.
  • E: A moça disfarçaria sua emoção inventando uma alegria que o escritor recebera com a melancólica consciência de quem esteja à morte.

Ela encontrou estendido na cama, agonizante quase, aquele que lhe fora um valioso companheiro em noites idas de sua infância.

Numa nova redação, o período acima permanecerá gramaticalmente correto no caso de se substituir os elementos sublinhados, na ordem dada, por:
  • A: à beira da agonia − cuja companhia fora preciosa
  • B: em eminente agonia − na qual companhia se enriquecera
  • C: à margem da agonia − a quem obtivera a rica companhia
  • D: relativamente agônico − de quem usufruíra bom companheirismo
  • E: agonizando mesmo − de cujo valor de companhia tivera

Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

1. Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos. Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados. Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
2. − Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
3. − A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
4. − Coitada... Vocação de viúva.
5. − Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
6. Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez, recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita. Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
7. Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa, exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do apartamento.
8. A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.


(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)

O cronista expressa uma retificação no seguinte trecho:
  • A: Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão! de sapatos. (8º parágrafo)
  • B: Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. (1º parágrafo)
  • C: No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência. (1º parágrafo)
  • D: Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. (6º parágrafo)
  • E: Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que denunciasse o segredo. (6º parágrafo)

Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

1. Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos. Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados. Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
2. − Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
3. − A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
4. − Coitada... Vocação de viúva.
5. − Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
6. Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez, recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita. Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
7. Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa, exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do apartamento.
8. A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.


(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)

O cronista lança mão da figura de linguagem conhecida como hipérbole em:
  • A: Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente. (6º parágrafo)
  • B: Vai se casar pela terceira vez. (3º parágrafo)
  • C: Isso, infinitas vezes. (1º parágrafo)
  • D: − Coitada... Vocação de viúva. (4º parágrafo)
  • E: O sapato foi substituído por outro. (1º parágrafo)

Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

1. Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos. Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados. Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
2. − Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
3. − A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
4. − Coitada... Vocação de viúva.
5. − Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
6. Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez, recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita. Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
7. Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa, exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do apartamento.
8. A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.


(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)

O termo que qualifica o substantivo na expressão acontecimento banal (1º parágrafo) tem sentido oposto àquele que qualifica o substantivo em:
  • A: rara coisa (7º parágrafo).
  • B: nova verificação (1º parágrafo).
  • C: zelo científico (6º parágrafo).
  • D: aparência normal (6º parágrafo).
  • E: exclusivos pés (6º parágrafo).

Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

1. Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos. Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados. Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
2. − Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
3. − A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
4. − Coitada... Vocação de viúva.
5. − Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
6. Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez, recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita. Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
7. Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa, exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do apartamento.
8. A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.

(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)

fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa, exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do apartamento. (7º parágrafo)

A expressão sublinhada acima pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido, por:
  • A: à medida que
  • B: apesar de que
  • C: de maneira que
  • D: a não ser que
  • E: a fim de que

Perguntei ao vendedor: − Essa senhora tem vocação de viúva?

Ao ser transposto para o discurso indireto, o texto acima assume a seguinte redação:
  • A: Perguntei ao vendedor se aquela senhora tivera vocação de viúva.
  • B: Perguntei ao vendedor: − Aquela senhora tinha vocação de viúva?
  • C: Perguntei ao vendedor se aquela senhora tem vocação de viúva.
  • D: Perguntei ao vendedor: − Aquela senhora teria vocação de viúva?
  • E: Perguntei ao vendedor se aquela senhora tinha vocação de viúva.

Atenção: Leia a crônica “A casadeira”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

1. Testemunhei ontem, na loja de Copacabana, um acontecimento banal e maravilhoso. A senhora sentou-se na banqueta e cruzou elegantemente as pernas. O vendedor, agachado, calçou-lhe o par de sapatos. Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à banqueta. O sapato foi substituído por outro. Seguiu-se na mesma autocontemplação, e o novo par de sapatos foi experimentado, e nova verificação especular. Isso, infinitas vezes. No semblante do vendedor, nem cansaço, nem impaciência. Explica-se: a cliente não refugava os sapatos experimentados. Adquiria-os todos. Adquiriu dozes pares, se bem contei.
2. − Ela está fazendo sua reforma de base? − perguntei a outro vendedor, que sorriu e esclareceu:
3. − A de base e a civil. Vai se casar pela terceira vez.
4. − Coitada... Vocação de viúva.
5. − Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. É casadeira, sabe como é?
6. Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. Oito ou nove pares seriam talvez para irmãs de pé igual ao seu, que ficaram em casa? Hipótese boba, que formulei e repeli incontinente. Ninguém neste mundo tem pé igual ao de ninguém, nem sequer ao de si mesmo, quanto mais ao da irmã. Daí avancei para outra hipótese mais plausível. Aquela senhora, na aparência normal, devia ter pés suplementares, Deus me perdoe, e usava-os dois de cada vez, recolhendo os demais mediante uma organização anatômica (ou eletrônica) absolutamente inédita. Observei-a com atenção e zelo científico, na expectativa de movimento menos controlado, que denunciasse o segredo. Nada disso. Até onde se podia perceber, eram apenas duas pernas, e bem agradáveis, terminando em dois exclusivos pés, de esbelto formato.
7. Assim, a coleção era mesmo para casar − e fiquei conjeturando que o casamento é uma rara coisa, exigindo a todo instante que a mulher troque de sapato, não se sabe bem para quê − a menos que os vá perdendo no afã de atirá-los sobre o marido, e eles (não o marido) sumam pela janela do apartamento.
8. A senhora pagou − não em dinheiro ou cheque, mas com um sorriso que mandava receber num lugar bastante acreditado, pois já reparei que as maiores compras são sempre pagas nele, e aos comerciantes agrada-lhes o sistema. As caixas de sapato adquiridas foram transportadas para o carro, estacionado em frente à loja. Mentiria se dissesse que eram doze carros monumentais, com doze motoristas louros, de olhos azuis. Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se percebeu sua natureza de teleguiado. Sem manobra, flechou no espaço e sumiu, levando a noiva e seus doze pares de França, perdão! de sapatos. Eu preveni que o caso era banal e maravilhoso.


(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. São Paulo: Companhia das Letras, 2020)

Verifica-se o emprego de vírgula para isolar um vocativo no seguinte trecho:
  • A: Ela se ergueu, ensaiou alguns passos airosos em frente do espelho, mirou-se, remirou-se, voltou à banqueta. (1º parágrafo)
  • B: Não é isso, senhor. Os dois primeiros maridos estão vivos. (5º parágrafo)
  • C: É casadeira, sabe como é? (5º parágrafo)
  • D: Não me pareceu que, para casar pela terceira vez, ela tivesse necessidade de tanto calçamento. (6º parágrafo)
  • E: Não. Era um carro só, simplesinho, sem motorista, nem precisava dele, pois logo se percebeu sua natureza de teleguiado. (8º parágrafo)

Exibindo de 3091 até 3100 de 24771 questões.