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Eu tinha uns quatro anos no dia em que minha mãe morreu. Dormia no meu quarto, quando pela manhã me acordei com um enorme barulho na casa toda. Eram gritos e gente correndo para todos os cantos. O quarto
de dormir de meu pai estava cheio de pessoas que eu não conhecia. Corri para lá, e vi minha mãe estendida no chão e meu pai caído em cima dela como um louco.
A gente toda que estava ali olhava para o quadro como e estivesse em um espetáculo. Vi então que minha mãe estava toda banhada em sangue, e corri para beijá-la, quando me pegaram pelo braço com força. Chorei, fiz o possível para livrar-me. Mas não me deixaram fazer nada. Um homem que chegou com uns soldados mandou então que todos saíssem, que só podia ficar ali a polícia e mais ninguém.

Levaram-me para o fundo da casa, onde os comentários sobre o fato eram os mais variados. O criado, pálido, contava que ainda dormia quando ouvira uns tiros no primeiro andar. E, correndo para cima, vira meu pai com o revólver na mão e minha mãe ensanguentada. “O doutor matou a dona Clarisse!” Por quê? Ninguém sabia compreender.
(REGO, José Lins do. Menino de Engenho. São Paulo: Global Editora, 2020.)

O texto é uma narrativa em primeira pessoa que possui um caráter memorialístico. Fica explicitada, linguisticamente, certa imprecisão do que é recordado quando o narrador faz a caracterização:
  • A: dos seus pais.
  • B: do criado de sua casa.
  • C: da localização espacial.
  • D: de sua própria idade.
  • E: da polícia.

O autor recorre à personificação no seguinte verso:
  • A: maldito seja quem olhar para trás
  • B: de ver nossos problemas
  • C: lá pra trás não há nada
  • D: saem todos a passear
  • E: aquela mágoa sem remédio

a gente gostaria / de ver nossos problemas / resolvidos por decreto

O verbo sublinhado acima expressa, no contexto, uma
  • A: desconfiança.
  • B: hesitação.
  • C: aspiração.
  • D: condição.
  • E: ressalva.

Na primeira estrofe, a palavra “bem” está empregada com sentido equivalente daquela sublinhada na frase:
  • A: A prova foi bem difícil.
  • B: Não me sinto bem hoje.
  • C: Ele emprega bem o tempo.
  • D: Penso que você agiu bem.
  • E: Só quero o seu bem.

“Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

O autor questiona a si mesmo no seguinte trecho:
  • A: Mas por que disse “cronista”?
  • B: por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos.
  • C: está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores
  • D: Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”
  • E: Controla, apesar de tudo.

“Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

Transpondo-se a frase “Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais” para o discurso indireto, o resultado será: Disse que
  • A: acontecia em toda parte, mas que no Rio teria havido um jeito especial de acontecer que tinha lhe emocionado mais.
  • B: acontece em toda parte, mas que no Rio teve um jeito especial de acontecer que o emocionou mais
  • C: aconteceu em toda parte, mas que no Rio teve um jeito especial de acontecer que o emocionara mais.
  • D: aconteceria em toda parte, mas que no Rio teria um jeito especial de acontecer que lhe emocionara mais.
  • E: acontecia em toda parte, mas que no Rio tinha um jeito especial de acontecer que o emocionava mais.

“Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

Retoma uma expressão mencionada anteriormente no texto o termo sublinhado em:
  • A: que se comparem a “Passeio à infância”.
  • B: Um Machado de Assis tendo a mais a poesia.
  • C: sem que este aparentemente a controle.
  • D: pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo.
  • E: Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana.

“Acontece em toda parte, mas no Rio tem um jeito especial de acontecer que me emociona mais.” Assim começa Rubem Braga uma de suas admiráveis crônicas, reunidas no Um pé de milho e o Um pé de milho é para mim a melhor coisa desta semana de que me compete dar contas ao leitor. Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho; e lede-o à boa e santa maneira, não solicitando ao autor um exemplar, que o famoso Braga é, como qualquer um de nós, um proletário das letras.

Mas por que disse “cronista”? Grande poeta é o que ele é, e grande contista que, por uma imposição do temperamento, se furta à maçada de escrever contos. Não sei de muitos poemas, em nossa lira de hoje, que se comparem a “Passeio à infância”, “Da praia”, “Choro”, coisas que o Braga displicente foi largando pelos jornais. Por sua vez, “Aula de inglês” e “Eu e Bebu na hora neutra da madrugada” são contos com preguiça de se tornarem contos. Já em “História do caminhão”, a identificação do gênero será mais complexa, pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo que conduz o Braga pelos rumos mais extraordinários, sem que este aparentemente a controle. Controla, apesar de tudo. Em suma, cronista, contista, poeta, está-se vendo que o que ele é verdadeiramente é um dos nossos mais altos escritores. Um Machado de Assis tendo a mais a poesia, a dolência e a pura comoção humana que são dons peculiares ao Braga.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Amor nenhum dispensa uma gota de ácido. Hélio de Seixas Guimarães (org.). São Paulo: Três Estrelas, 2019)

O autor do texto dirige-se explicitamente a seu leitor no seguinte trecho:
  • A: são contos com preguiça de se tornarem contos.
  • B: Portanto, e sem vacilação, lede o Um pé de milho.
  • C: pois a composição é atravessada por uma corrente de surrealismo.
  • D: se furta à maçada de escrever contos.
  • E: Grande poeta é o que ele é, e grande contista.

O animal humano, que é parte da natureza e que dela depende, não se resignou a viver para sempre à mercê dos frutos espontâneos da terra. O desafio que desde logo se insinuou foi: como induzir o mundo natural a somar forças e multiplicar o resultado do esforço humano? Como colocá-lo a serviço do homem? O passo decisivo nessa busca foi a descoberta, antes prática que teórica, de que “domina-se a natureza obedecendo-se a ela”. A sagacidade do animal humano soube encontrar nos caminhos do mundo como ele se põe (natura naturans: “a natureza causando a natureza”) as chaves de acesso ao mundo como ele pode ser (natura naturata: “a natureza causada”).

Processos naturais, desde que devidamente sujeitos à observação e direcionamento pela mão do homem, podiam se tornar inigualáveis aliados na luta pelo sustento diário. Em vez de tão somente surpreender e pilhar os seres vivos que a natureza oferece para uso e desfrute imediato, como fazia o caçador-coletor, tratava-se de compreender suas regularidades, acatar sua lógica, identificar e aprimorar suas espécies mais promissoras e, desse modo, cooptá-los em definitivo para a tarefa de potencializar os meios de vida. Se a realidade designada pelo termo civilização não se deixa definir com facilidade, uma coisa é certa: nenhum conceito que deixe de dar o devido peso a essa mudança na relação homem-natureza poderá ser julgado completo. A domesticação sistemática, em larga escala, de plantas e animais deu à humanidade maior segurança alimentar e trouxe extraordinárias conquistas materiais. Mas ela não veio só. O advento da sociedade agropastoril teve como contrapartida direta e necessária uma mudança menos saliente à primeira vista, mas nem por isso de menor monta: a profunda transformação da psicologia temporal do animal humano.

A domesticação da natureza externa exigiu um enorme empenho na domesticação da natureza interna do homem. Pois a prática da agricultura e do pastoreio implicou uma vasta readaptação dos valores, crenças, instituições e formas de vida aos seus métodos e exigências. Entre os acontecimentos da história mundial que modificaram de maneira permanente os hábitos mentais do homem, seria difícil encontrar algum que pudesse rivalizar com o impacto da transição para a sociedade de base agrícola e pastoril em toda a forma como percebemos e lidamos com a dimensão temporal da vida prática.
(GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital. Adaptado)

As vírgulas isolam um segmento que expressa ideia de condição no seguinte trecho:
  • A: A domesticação sistemática, em larga escala, de plantas e animais
  • B: O passo decisivo nessa busca foi a descoberta, antes prática que teórica, de que
  • C: tratava-se de compreender suas regularidades, acatar sua lógica, identificar e aprimorar suas espécies mais promissoras
  • D: Em vez de tão somente surpreender e pilhar os seres vivos que a natureza oferece para uso e desfrute imediato, como fazia o caçador-coletor, tratava-se de compreender
  • E: Processos naturais, desde que devidamente sujeitos à observação e direcionamento pela mão do homem, podiam

O animal humano, que é parte da natureza e que dela depende, não se resignou a viver para sempre à mercê dos frutos espontâneos da terra. O desafio que desde logo se insinuou foi: como induzir o mundo natural a somar forças e multiplicar o resultado do esforço humano? Como colocá-lo a serviço do homem? O passo decisivo nessa busca foi a descoberta, antes prática que teórica, de que “domina-se a natureza obedecendo-se a ela”. A sagacidade do animal humano soube encontrar nos caminhos do mundo como ele se põe (natura naturans: “a natureza causando a natureza”) as chaves de acesso ao mundo como ele pode ser (natura naturata: “a natureza causada”).

Processos naturais, desde que devidamente sujeitos à observação e direcionamento pela mão do homem, podiam se tornar inigualáveis aliados na luta pelo sustento diário. Em vez de tão somente surpreender e pilhar os seres vivos que a natureza oferece para uso e desfrute imediato, como fazia o caçador-coletor, tratava-se de compreender suas regularidades, acatar sua lógica, identificar e aprimorar suas espécies mais promissoras e, desse modo, cooptá-los em definitivo para a tarefa de potencializar os meios de vida. Se a realidade designada pelo termo civilização não se deixa definir com facilidade, uma coisa é certa: nenhum conceito que deixe de dar o devido peso a essa mudança na relação homem-natureza poderá ser julgado completo. A domesticação sistemática, em larga escala, de plantas e animais deu à humanidade maior segurança alimentar e trouxe extraordinárias conquistas materiais. Mas ela não veio só. O advento da sociedade agropastoril teve como contrapartida direta e necessária uma mudança menos saliente à primeira vista, mas nem por isso de menor monta: a profunda transformação da psicologia temporal do animal humano.

A domesticação da natureza externa exigiu um enorme empenho na domesticação da natureza interna do homem. Pois a prática da agricultura e do pastoreio implicou uma vasta readaptação dos valores, crenças, instituições e formas de vida aos seus métodos e exigências. Entre os acontecimentos da história mundial que modificaram de maneira permanente os hábitos mentais do homem, seria difícil encontrar algum que pudesse rivalizar com o impacto da transição para a sociedade de base agrícola e pastoril em toda a forma como percebemos e lidamos com a dimensão temporal da vida prática.
(GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, edição digital. Adaptado)

Está correta e coerente a redação do seguinte comentário:
  • A: Diferencia-se do caçador-coletor, por manifestar inconformismo, os homens ditos civilizados.
  • B: Extraordinárias conquistas materiais acompanharam a domesticação sistemática de plantas e animais.
  • C: Foi insuficiente para o sustento do animal humano, a opção de viver de alimentos no qual se disponibilizava no meio ambiente.
  • D: Impensáveis formas de desenvolvimento adviram do conhecimento agrícola e da pecuária.
  • E: Ainda que fazia parte da natureza, o animal humano, se furtou a depender daquilo que ela espontaneamente provia.

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