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Diamantes no deserto



Vales marcados pela intensa aridez parecem ter se tornado ambientes ideais para o florescimento de frutos típicos do século XXI: os produtos tecnológicos. O maior centro de inovação do planeta se encontra em uma região seca da Califórnia. Todos os anos, o Vale do Silício concentra 50 bilhões de dólares de investimentos de alto risco, usualmente destinados a startups – quase metade do montante movimentado dentro dos Estados Unidos –, além de 15% da produção de patentes desse país.

A mais de 10 000 quilômetros de distância de lá, no Oriente Médio, o Deserto de Nevegue, em Israel, vê crescer, sobre seu solo abrasador, um complexo industrial que põe o território em disputa direta com a cidade chinesa de Shenzhen pelo posto de maior polo de inovação do mundo. No oásis tecnológico proliferam companhias de ponta, que se espalham ainda pela costa litorânea, nos arredores de Tel-Aviv, fazendo dessa pequeníssima nação, com menos de 10% da área do Estado de São Paulo e população pouco maior que a da cidade do Rio de Janeiro, um sinônimo de progresso.

Como Israel transformou um deserto árido em centro de inovação mundial? Responde Ran Natanzon, especialista em vender tal faceta do país: “Trata-se de uma combinação dos seguintes fatores, todos igualmente essenciais: somos uma nação altamente militarizada; mantemos a indústria em ligação com as pesquisas acadêmicas; o governo atua para fomentar o setor; há operação ativa de fundos de investimentos e multinacionais; e existe uma proliferação de startups”.

Todo israelense, homem ou mulher, é obrigado a servir no Exército ao completar 18 anos. O que não quer dizer, no entanto, que o contingente completo vá para a linha de frente. Há, por exemplo, uma unidade, a 8 200, integrante do Corpo de Inteligência das Forças de Defesa, cujos membros se dedicam a decifrar códigos de computador. “Essa tropa fornece veteranos hábeis em trabalhar com segurança de dados digitais e em outras áreas do mercado da tecnologia”, explicou o engenheiro israelense Lavy Shtokhamer, que chefia uma divisão que mescla agentes ligados ao governo e representantes de empresas parceiras, como a IBM, em ações contra ataques de hackers que têm como alvo Israel ou, como vem sendo mais frequente, sistemas de companhias privadas.

(Filipe Vilicic. Veja, 12.02.2020. Adaptado)

No último parágrafo, as expressões em destaque imprimem aos respectivos contextos as noções de
  • A: conclusão e comparação.
  • B: explicação e modo.
  • C: ressalva e correlação.
  • D: condição e conformidade.
  • E: restrição e exemplificação.

LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Caderno B, p.2, 6 jun. 1970.


No trecho “Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!” (l. 54-55), o segundo período apresenta, em relação à informação explicitada no primeiro, uma noção de
  • A: causa
  • B: condição
  • C: consequência
  • D: modo
  • E: tempo

No trecho do parágrafo 5 “É, portanto, nessa sociedade desigual, repleta de problemas, que a atividade científica e tecnológica precisa se desenvolver e se legitimar.”, a palavra destacada pode ser substituída, sem prejuízo do sentido, por
  • A: à medida que
  • B: no entanto
  • C: por conseguinte
  • D: porquanto
  • E: uma vez que

Observe os trechos destacados nas passagens transcritas:

Recebemos uma overdose de informação, mas isso não significa que os acontecimentos sejam surpreendentes a ponto de fazer a festa dos colunistas. (2º parágrafo)
Por essas e outras, persevero no trivial, que, contrariando sua natureza, passou a ser o inusitado da vida. (último parágrafo)

A alternativa em que o trecho está reescrito, substituindo os termos em destaque, respectivamente e com sentido compatível com o original, é:
  • A: … entretanto isso não significa que os acontecimentos sejam tão surpreendentes que façam a festa dos colunistas. … apesar de contrariar sua natureza…
  • B: … contanto que isso não signifique que os acontecimentos sejam tão surpreendentes até fazer a festa dos colunistas. … ao contrário de sua natureza …
  • C: … portanto isso não significa que acontecimentos sejam surpreendentes para fazer a festa dos colunistas. … ao contrariar sua natureza…
  • D: … logo isso não significa que os acontecimentos sejam surpreendentes mesmo que seja para fazer a festa dos colunistas. … desde que contrarie sua natureza…
  • E: … conforme isso não significa que os acontecimentos são surpreendentes e fazem a festa dos colunistas … mesmo que contrarie sua natureza…

O senso comum é acumulado ao longo da vida de cada um de nós e acaba sendo transmitido de geração em geração. É um tipo de conhecimento não científico, formado pelas nossas impressões subjetivas sobre o mundo, fruto das nossas experiências pessoais.

Embora esse seja um tipo de conhecimento popular e prático que nos orienta no dia a dia, por não ser testado, verificado ou analisado por uma metodologia científica, permanece um alto grau de incerteza sobre a sua validade, ou seja, é um conhecimento tradicionalmente bem aceito, que pode ou não estar correto ou em consonância com a realidade. Trata-se, contudo, apenas de um mito, assim como muitos outros ensinados e perpetuados pela força da tradição e da crença, tal qual afirma Tolstói em sua obra Uma confissão: “Sei que a maior parte dos homens raramente são capazes de aceitar as verdades mais simples e óbvias se essas os obrigarem a admitir a falsidade das conclusões que eles, orgulhosamente, ensinaram aos outros, e que teceram, fio por fio, trançando-as no tecido da própria vida.”.

É claro que a maioria das pessoas reconhece também que a ciência é importante e necessária, mas, ainda assim, temos dificuldade em abrir mão das nossas crenças e do nosso senso comum, mesmo quando necessário. Tendemos a nos manter fiéis àquilo que “testemunhamos com nossos próprios olhos”.

Confiar nos “nossos olhos” — na nossa percepção pessoal — é um processo natural e compreensível, uma vez que essa é a ferramenta com que somos equipados “de fábrica” e que nos ajudou a sobreviver até aqui ao longo da nossa evolução.


André Demambre Bacchi. Afinal, o que é ciência: ... E o que não é? São Paulo: Editora Contexto, 2024, p. 10-11 (com adaptações).
Julgue o item subsequente, referentes às características textuais e aos aspectos linguísticos do texto precedente, bem como às ideias nele veiculadas.

No último parágrafo, a substituição do segmento “uma vez que” por "de modo que" preservaria as relações de sentido estabelecidas no período.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

O senso comum é acumulado ao longo da vida de cada um de nós e acaba sendo transmitido de geração em geração. É um tipo de conhecimento não científico, formado pelas nossas impressões subjetivas sobre o mundo, fruto das nossas experiências pessoais.

Embora esse seja um tipo de conhecimento popular e prático que nos orienta no dia a dia, por não ser testado, verificado ou analisado por uma metodologia científica, permanece um alto grau de incerteza sobre a sua validade, ou seja, é um conhecimento tradicionalmente bem aceito, que pode ou não estar correto ou em consonância com a realidade. Trata-se, contudo, apenas de um mito, assim como muitos outros ensinados e perpetuados pela força da tradição e da crença, tal qual afirma Tolstói em sua obra Uma confissão: “Sei que a maior parte dos homens raramente são capazes de aceitar as verdades mais simples e óbvias se essas os obrigarem a admitir a falsidade das conclusões que eles, orgulhosamente, ensinaram aos outros, e que teceram, fio por fio, trançando-as no tecido da própria vida.”.

É claro que a maioria das pessoas reconhece também que a ciência é importante e necessária, mas, ainda assim, temos dificuldade em abrir mão das nossas crenças e do nosso senso comum, mesmo quando necessário. Tendemos a nos manter fiéis àquilo que “testemunhamos com nossos próprios olhos”.

Confiar nos “nossos olhos” — na nossa percepção pessoal — é um processo natural e compreensível, uma vez que essa é a ferramenta com que somos equipados “de fábrica” e que nos ajudou a sobreviver até aqui ao longo da nossa evolução.


André Demambre Bacchi. Afinal, o que é ciência: ... E o que não é? São Paulo: Editora Contexto, 2024, p. 10-11 (com adaptações).
Julgue o item subsequente, referentes às características textuais e aos aspectos linguísticos do texto precedente, bem como às ideias nele veiculadas.

No terceiro parágrafo, o trecho “mas, ainda assim, temos dificuldade em abrir mão das nossas crenças e do nosso senso comum” contribui para a construção do sentido do texto na medida em que apresenta significado contextual de oposição ao que o autor afirma no segmento “a ciência é importante e necessária”.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

Durante um seminário sobre a antropologia do dinheiro ministrado na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, Jock Stirratt descreveu em um gráfico os usos a que alguns pescadores do Sri Lanka que prosperaram nos últimos anos submetiam sua riqueza recém-adquirida. A renda desses pescadores, antes muito baixa, deu um grande salto desde que o gelo se tornou disponível, o que possibilitou que seus peixes alcançassem, em boas condições, os mercados distantes da costa, onde atingiram preços altos. No entanto, as aldeias de pescadores ainda permanecem isoladas e, à época do estudo, não tinham eletricidade, estradas nem água encanada. Apesar desses desincentivos aparentes, os pescadores mais ricos gastavam os excedentes de seus lucros na compra de aparelhos de televisão inutilizáveis, na construção de garagens em casas a que automóveis sequer tinham acesso e na instalação de caixas-d’água jamais abastecidas. De acordo com Stirratt, isso tudo ocorre por uma imitação entusiasmada da alta classe média das zonas urbanas do Sri Lanka.

É fácil rir de despesas tão grosseiramente excêntricas, cuja aparente falta de propósito utilitário dá a impressão de que, por comparação, pelo menos parte de nosso próprio consumo tem um caráter racional. Como os objetos adquiridos por esses pescadores parecem não ter função em seu meio, não conseguimos entender por que eles deveriam desejá-los. Por outro lado, se eles colecionassem peças antigas de porcelana chinesa e as enterrassem, como fazem os Ibans, seriam considerados sensatos, senão encantados, tal como os temas antropológicos normais. Não pretendo negar as explicações óbvias para esse tipo de comportamento ― ou seja, busca de status, competição entre vizinhos, e assim por diante. Mas penso que também dever-se-ia reconhecer a presença de uma certa vitalidade cultural nessas atrevidas incursões a campos ainda não inexplorados do consumo: a habilidade de transcender o aspecto meramente utilitário dos bens de consumo, de modo que se tornem mais parecidos com obras de arte, carregados de expressão pessoal.



Alfred Gell. Recém-chegados ao mundo dos bens: o consumo entre os Gonde Muria. In: Arjun Appadurai (org). A vida social das coisas: mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Eduff, 2008, p. 147-48 (com adaptações).

No segundo parágrafo do texto CB1A1-I, com o emprego da conjunção “Mas” (último período), o autor introduz
  • A: uma retificação à informação apresentada no período imediatamente anterior.
  • B: uma discordância com relação à informação apresentada no período imediatamente anterior.
  • C: uma razão para ele não negar as explicações apresentadas no período imediatamente anterior.
  • D: uma ressalva à informação apresentada no período imediatamente anterior.

Durante um seminário sobre a antropologia do dinheiro ministrado na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, Jock Stirratt descreveu em um gráfico os usos a que alguns pescadores do Sri Lanka que prosperaram nos últimos anos submetiam sua riqueza recém-adquirida. A renda desses pescadores, antes muito baixa, deu um grande salto desde que o gelo se tornou disponível, o que possibilitou que seus peixes alcançassem, em boas condições, os mercados distantes da costa, onde atingiram preços altos. No entanto, as aldeias de pescadores ainda permanecem isoladas e, à época do estudo, não tinham eletricidade, estradas nem água encanada. Apesar desses desincentivos aparentes, os pescadores mais ricos gastavam os excedentes de seus lucros na compra de aparelhos de televisão inutilizáveis, na construção de garagens em casas a que automóveis sequer tinham acesso e na instalação de caixas-d’água jamais abastecidas. De acordo com Stirratt, isso tudo ocorre por uma imitação entusiasmada da alta classe média das zonas urbanas do Sri Lanka.

É fácil rir de despesas tão grosseiramente excêntricas, cuja aparente falta de propósito utilitário dá a impressão de que, por comparação, pelo menos parte de nosso próprio consumo tem um caráter racional. Como os objetos adquiridos por esses pescadores parecem não ter função em seu meio, não conseguimos entender por que eles deveriam desejá-los. Por outro lado, se eles colecionassem peças antigas de porcelana chinesa e as enterrassem, como fazem os Ibans, seriam considerados sensatos, senão encantados, tal como os temas antropológicos normais. Não pretendo negar as explicações óbvias para esse tipo de comportamento ― ou seja, busca de status, competição entre vizinhos, e assim por diante. Mas penso que também dever-se-ia reconhecer a presença de uma certa vitalidade cultural nessas atrevidas incursões a campos ainda não inexplorados do consumo: a habilidade de transcender o aspecto meramente utilitário dos bens de consumo, de modo que se tornem mais parecidos com obras de arte, carregados de expressão pessoal.



Alfred Gell. Recém-chegados ao mundo dos bens: o consumo entre os Gonde Muria. In: Arjun Appadurai (org). A vida social das coisas: mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Eduff, 2008, p. 147-48 (com adaptações).

No segundo período do segundo parágrafo do texto CB1A1-I, a conjunção “Como” introduz um segmento com sentido
  • A: causal.
  • B: comparativo.
  • C: conformativo.
  • D: temporal.

O sentido e a correção gramatical do texto CB1A1-I seriam preservados caso a locução Apesar de, empregada no trecho “Apesar desses desincentivos aparentes” (primeiro parágrafo), fosse substituída por
  • A: Embora.
  • B: Ainda que.
  • C: Não obstante.
  • D: Mesmo se.

Texto CB1A1-I
Não estamos opondo máquinas a ecologia, como se as máquinas fossem aquelas coisas que só servem para violentar a Mãe Natureza e violar a harmonia entre o ser humano e a natureza ― uma imagem atribuída à tecnologia desde o fim do século XVIII. Também não estamos seguindo a hipótese de Gaia de que a Terra é um único superorganismo ou uma coletividade de organismos. Em vez disso, gostaria de propor uma reflexão sobre a ecologia das máquinas. Para dar início a essa ecologia das máquinas, precisamos primeiro voltar ao conceito de ecologia. Seu fundamento está na diversidade, já que é apenas com biodiversidade (ou multiespécies que incluam todas as formas de organismos, até mesmo bactérias) que os sistemas ecológicos podem ser conceitualizados. A fim de discutir uma ecologia de máquinas, precisaremos de uma noção diferente e em paralelo com a de biodiversidade ― uma noção a que chamamos tecnodiversidade. A biodiversidade é o correlato da tecnodiversidade, uma vez que sem esta só testemunharemos o desaparecimento de espécies diante de uma racionalidade homogênea. Tomemos como exemplo os pesticidas, que são feitos para matar certa espécie de insetos independentemente de sua localização geográfica, precisamente porque são baseados em análises químicas e biológicas. Sabemos, no entanto, que o uso de um mesmo pesticida pode levar a diversas consequências desastrosas em biomas diferentes. Antes da invenção dessas substâncias, empregavam-se diferentes técnicas para combater os insetos que ameaçavam as colheitas dos produtos agrícolas ― recursos naturais encontrados na região, por exemplo. Ou seja, havia uma tecnodiversidade antes do emprego de pesticidas como solução universal. Os pesticidas aparentam ser mais eficientes a curto prazo, mas hoje é fato bastante consolidado que estávamos o tempo todo olhando para os nossos pés quando pensávamos em um futuro longínquo. Podemos dizer que a tecnodiversidade é, em essência, uma questão de localidade. Localidade não significa necessariamente etnocentrismo ou nacionalismo, mas é aquilo que nos força a repensar o processo de modernização e de globalização e que nos permite refletir sobre a possibilidade de reposicionar as tecnologias modernas.
Yuk Hui. Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu Editora, 2020, p. 122-123 (com adaptações).

Considerando as ideias, os sentidos e os aspectos linguísticos do texto CB1A1-I, julgue o item a seguir.

No sexto período do texto, a locução “A fim de” introduz uma oração que expressa finalidade.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

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