Questões

Filtrar por:

limpar filtros

Foram encontradas 24771 questões.
Há quem veja a literatura como o refúgio da beleza e da paz. Num mundo amargo, triste e violento, os livros oferecem a rota de fuga. Não é a vida como ela é, mas a vida como deveria ser. Títulos agressivos devem ser evitados. Essa convicção é equivocada?

Não é o caso de dizer que é equivocada. Os gostos são múltiplos e devem ser respeitados. O problema é acreditar que a literatura, para funcionar bem, deva ser o paraíso na terra. Há livros que funcionam assim, mas não são muitos. Para falar a verdade, as grandes obras literárias, com intensidade diferente, são marcadas pela ganância, pela traição, pela violência, pela catástrofe.

Assim, vale a pena respirar fundo e encarar as nossas imperfeições nas páginas dos grandes livros. O mergulho nas trevas forja o caráter da gente. Não é das coisas mais agradáveis, mas intensifica nossa humanidade. Ser humano em sua plenitude é conhecer a variedade de nossas emoções e ações. As boas e as ruins. As dignas e as indignas. As que comovem e as que
perturbam.

Um belo treino é a leitura do monumental A canção do carrasco, de Norman Mailer. O centro de tudo é a execução de Gary Gilmore em 1977, nos Estados Unidos da América, pelos crimes que cometeu. Quase tudo nas mil páginas de Mailer é real. O material foi obtido a partir de entrevistas, leitura de processos judiciais e da cobertura da imprensa. Trata-se de uma aula de como a realidade é operada por diversas alavancas.
Nelson Fonseca Neto. O mundo do crime na literatura. Internet: (com adaptações)

Quanto à tipologia textual, o texto é predominantemente
  • A: narrativo, por apresentar detalhes sobre a obra de Norman Mailer.
  • B: expositivo, apresentando linguagem objetiva, com foco na definição de conceitos e na apresentação de exemplos
  • C: descritivo, por ser marcado pela impessoalidade na linguagem e por exibir um ponto de vista de modo imparcial.
  • D: injuntivo, por buscar convencer o leitor da contribuição dos livros agressivos para a intensificação da humanidade.
  • E: dissertativo-argumentativo, sendo voltado a convencer o leitor do valor dos livros sombrios.

Um problema no estudo da violência é sua relação com a racionalidade. Os atos violentos mais graves, praticados com requintes de crueldade, são vistos pela mídia e pela opinião pública como atos irracionais. Ora, se a violência é irracional, não é por ser obra de um ser desprovido de razão, mas por ser, paradoxalmente, o produto de uma razão perigosamente racional. É o que ocorre quando certos mecanismos racionais, como a simplificação, que reduz tudo a um único princípio explicativo, e a polarização, que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis, deixam o indivíduo sem alternativas. Esses mecanismos traduzem a racionalidade de uma razão incapaz de lidar com os antagonismos, as diferenças e a diversidade.

Portanto, o problema que levanta a violência é muito menos o da irracionalidade do que o de uma racionalidade repleta de “razões” para não se deter diante de limites estabelecidos pela própria razão humana. É a razão que, amplificando os conflitos, reduzindo as alternativas ao impasse e superdimensionando os defeitos dos outros, cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência. Em outras palavras, o problema da violência está intimamente ligado ao problema das relações sociais, em que a existência do outro aparece como ameaça real ou imaginária. O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro. É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade. No entanto, as razões dessa irracionalidade raramente são explicitadas e, frequentemente, deixam de existir quando o recipiente de atos violentos é o “inimigo”.
Angel Pino. Violência, educação e sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo. In: Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 100, p. 763-785, out./2007 (com adaptações).

Em cada uma das opções a seguir, é apresentada uma proposta de reescrita do trecho “Ora, se a violência é irracional, não é por ser obra de um ser desprovido de razão, mas por ser, paradoxalmente, o produto de uma razão perigosamente racional.”, do texto CG1A1-I. Assinale a opção em que a proposta apresentada mantém a correção gramatical e a coerência do texto.
  • A: Ora, se a violência é irracional paradoxalmente, não é por susceder de feitos realizados por alguém destituido de razão, mas sim por ser fruto de uma razão perigosamente racional.
  • B: Ora, se a violência é irracional, é por estar enraizada em conduta de ser irracional que atua de forma paradoxalmente atrelada a razão.
  • C: Ora, se a violência é irracional, não é que se tenha fundamento no que um ser irracional cometeu, mas por se originar paradoxalmente em uma razão que está estranhamente baseada no perigo.
  • D: Ora, se a violência é irracional, isso ocorre porque é, paradoxalmente, resultado da ação de quem baseia-se de forma perigosa, no contraste entre o racional e o irracional
  • E: Ora, se a violência é irracional, não é por resultar de ações de um ser irracional, e, sim, por ser, paradoxalmente, fruto do exercício de uma razão cuja racionalidade é perigosa.

Um problema no estudo da violência é sua relação com a racionalidade. Os atos violentos mais graves, praticados com requintes de crueldade, são vistos pela mídia e pela opinião pública como atos irracionais. Ora, se a violência é irracional, não é por ser obra de um ser desprovido de razão, mas por ser, paradoxalmente, o produto de uma razão perigosamente racional. É o que ocorre quando certos mecanismos racionais, como a simplificação, que reduz tudo a um único princípio explicativo, e a polarização, que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis, deixam o indivíduo sem alternativas. Esses mecanismos traduzem a racionalidade de uma razão incapaz de lidar com os antagonismos, as diferenças e a diversidade.

Portanto, o problema que levanta a violência é muito menos o da irracionalidade do que o de uma racionalidade repleta de “razões” para não se deter diante de limites estabelecidos pela própria razão humana. É a razão que, amplificando os conflitos, reduzindo as alternativas ao impasse e superdimensionando os defeitos dos outros, cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência. Em outras palavras, o problema da violência está intimamente ligado ao problema das relações sociais, em que a existência do outro aparece como ameaça real ou imaginária. O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro. É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade. No entanto, as razões dessa irracionalidade raramente são explicitadas e, frequentemente, deixam de existir quando o recipiente de atos violentos é o “inimigo”.
Angel Pino. Violência, educação e sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo. In: Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 100, p. 763-785, out./2007 (com adaptações).

Com relação aos aspectos linguísticos do texto, julgue os itens a seguir.

I No quarto período do primeiro parágrafo, tanto o trecho “que reduz tudo a um único princípio explicativo” quanto o trecho “que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis” consistem em orações explicativas.
II Caso o trecho “É a razão que” (segundo período do segundo parágrafo) fosse substituído por A razão, seria mantida a correção gramatical do texto.
III No trecho “É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade”, o termo “que” é uma forma pronominal cujo referente é “dramaturgia”
IV No trecho “O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro”, o termo “que” introduz oração adverbial comparativa.

Estão certos apenas os itens
  • A: I e II.
  • B: I e III.
  • C: III e IV.
  • D: I, II e IV.
  • E: II, III e IV.

Um problema no estudo da violência é sua relação com a racionalidade. Os atos violentos mais graves, praticados com requintes de crueldade, são vistos pela mídia e pela opinião pública como atos irracionais. Ora, se a violência é irracional, não é por ser obra de um ser desprovido de razão, mas por ser, paradoxalmente, o produto de uma razão perigosamente racional. É o que ocorre quando certos mecanismos racionais, como a simplificação, que reduz tudo a um único princípio explicativo, e a polarização, que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis, deixam o indivíduo sem alternativas. Esses mecanismos traduzem a racionalidade de uma razão incapaz de lidar com os antagonismos, as diferenças e a diversidade.

Portanto, o problema que levanta a violência é muito menos o da irracionalidade do que o de uma racionalidade repleta de “razões” para não se deter diante de limites estabelecidos pela própria razão humana. É a razão que, amplificando os conflitos, reduzindo as alternativas ao impasse e superdimensionando os defeitos dos outros, cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência. Em outras palavras, o problema da violência está intimamente ligado ao problema das relações sociais, em que a existência do outro aparece como ameaça real ou imaginária. O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro. É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade. No entanto, as razões dessa irracionalidade raramente são explicitadas e, frequentemente, deixam de existir quando o recipiente de atos violentos é o “inimigo”.
Angel Pino. Violência, educação e sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo. In: Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 100, p. 763-785, out./2007 (com adaptações).

Seria gramaticalmente correta e manteria os sentidos do texto a substituição de
  • A: “Ora” (terceiro período do primeiro parágrafo) por Então.
  • B: “No entanto” (último período do segundo parágrafo) por Porquanto.
  • C: “Portanto” (primeiro período do segundo parágrafo) por Por conseguinte.
  • D: “Em outras palavras” (terceiro período do segundo parágrafo) por Outrossim.
  • E: “pois” (penúltimo período do segundo parágrafo) por sem embargo.

Um problema no estudo da violência é sua relação com a racionalidade. Os atos violentos mais graves, praticados com requintes de crueldade, são vistos pela mídia e pela opinião pública como atos irracionais. Ora, se a violência é irracional, não é por ser obra de um ser desprovido de razão, mas por ser, paradoxalmente, o produto de uma razão perigosamente racional. É o que ocorre quando certos mecanismos racionais, como a simplificação, que reduz tudo a um único princípio explicativo, e a polarização, que vê a realidade como feita unicamente de elementos antagônicos e irreconciliáveis, deixam o indivíduo sem alternativas. Esses mecanismos traduzem a racionalidade de uma razão incapaz de lidar com os antagonismos, as diferenças e a diversidade.

Portanto, o problema que levanta a violência é muito menos o da irracionalidade do que o de uma racionalidade repleta de “razões” para não se deter diante de limites estabelecidos pela própria razão humana. É a razão que, amplificando os conflitos, reduzindo as alternativas ao impasse e superdimensionando os defeitos dos outros, cria os cenários em que florescem as ideologias legitimadoras da violência. Em outras palavras, o problema da violência está intimamente ligado ao problema das relações sociais, em que a existência do outro aparece como ameaça real ou imaginária. O que mais espanta na violência, quando ela é razão de espanto, é a sua dramaturgia, a exposição da crueldade ao estado puro. É, pois, o caráter aparentemente absurdo dessa dramaturgia que confere à violência o status de irracionalidade. No entanto, as razões dessa irracionalidade raramente são explicitadas e, frequentemente, deixam de existir quando o recipiente de atos violentos é o “inimigo”.
Angel Pino. Violência, educação e sociedade: um olhar sobre o Brasil contemporâneo. In: Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 100, p. 763-785, out./2007 (com adaptações).

O foco do autor do texto é defender a ideia de que
  • A: a irracionalidade é elemento característico da violência extrema.
  • B: a razão é paradoxalmente capaz de lidar com o antagonismo e a diversidade.
  • C: a violência está associada a ameaças reais identificadas pela razão.
  • D: a irracionalidade é uma explicação falaciosa para a violência extrema.
  • E: a aplicação de mecanismos racionais transforma perigos irreais em fatos.

Assunto: Debates sobre o Plano Nacional da Pessoa com Deficiência.

Senhor Ministro,
Tenho a honra de convidar Vossa Excelência a participar do lançamento do Ciclo de Debates sobre a Execução do Plano Nacional da Pessoa com
Deficiência, a ser realizado em 15 de março de 2018, às 9 horas, no Auditório da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), no Setor de Áreas Isoladas Sul, em Brasília. O debate inicial faz parte de uma sequência de cinco encontros, com o objetivo de acompanharo desenvolvimento das diversas ações contidas no referido Plano.
Atenciosamente,
(espaço para assinatura)
[NOME DO SIGNATÁRIO]
[Ministro de Estado]
Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual deredacao-da-presidencia-da-republica/manual deredacao.pdf. Adaptado.Acesso em 14/05/2022)

Considerando as orientações do Manual de Redação da Presidência da República, ao começar o texto com “Tenho a honra de convidar”, percebe-se que o redator não fez uso da seguinte característica necessária às correspondências oficiais:
  • A: Clareza.
  • B: Objetividade.
  • C: Coesão.
  • D: Coerência.
  • E: Pessoalidade.

Assunto: Debates sobre o Plano Nacional da Pessoa com Deficiência.

Senhor Ministro,
Tenho a honra de convidar Vossa Excelência a participar do lançamento do Ciclo de Debates sobre a Execução do Plano Nacional da Pessoa com
Deficiência, a ser realizado em 15 de março de 2018, às 9 horas, no Auditório da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), no Setor de Áreas Isoladas Sul, em Brasília. O debate inicial faz parte de uma sequência de cinco encontros, com o objetivo de acompanharo desenvolvimento das diversas ações contidas no referido Plano.
Atenciosamente,
(espaço para assinatura)
[NOME DO SIGNATÁRIO]
[Ministro de Estado]
Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual deredacao-da-presidencia-da-republica/manual deredacao.pdf. Adaptado.Acesso em 14/05/2022)

O texto anterior é parte de um ofício, um dos exemplos de correspondências oficiais. Trata-se de um documento enviado a um Ministro de Estado. Em relação aos pronomes de tratamento empregados, é correto afirmar que:
  • A: o uso da forma “Senhor Ministro” é equivocada, pois indica um registro bastante informal para referir-se a um ministro.
  • B: o pronome “Vossa Excelência” poderia ser substituído por “Sua Excelência” a fim de reforçar a impessoalidade.
  • C: as formas de tratamento diferenciadas relacionam-se com os momentos distintos em que foram empregadas no texto.
  • D: o redator poderia ter empregado “Vossa Excelência” no vocativo e a forma abreviada deste pronome no corpo do texto.
  • E: a substituição, no vocativo, de “Senhor” por “Excelentíssimo” é uma escolha estilística possível ao redator.

Inverno

A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído, sinhá Vitória de pernas cruzadas, as coxas servindo de travesseiros aos filhos. A cachorra Baleia, com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinza.

Estava um frio medonho, as goteiras pingavam lá fora, o vento sacudia os ramos das catingueiras, e o barulho do rio era como um trovão distante.

Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedra, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e os meninos deitados. De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaços esfriavam recebendo o ar que entrava pela rachadura das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, se não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto. [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 63-64)

Considerando-se o contexto, verifica-se que o pronome demonstrativo destacado em “De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles.” (3º§), foi empregado em uma referência:
  • A: espacial, indicando a proximidade do narrador.
  • B: textual, retomando o último elemento de uma sequência.
  • C: temporal, aproximando o leitor da ação descrita
  • D: textual, apontando uma ideia que ainda será apresentada.
  • E: espacial, indicando a proximidade entre os personagens.

Inverno

A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído, sinhá Vitória de pernas cruzadas, as coxas servindo de travesseiros aos filhos. A cachorra Baleia, com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinza.

Estava um frio medonho, as goteiras pingavam lá fora, o vento sacudia os ramos das catingueiras, e o barulho do rio era como um trovão distante.

Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedra, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e os meninos deitados. De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaços esfriavam recebendo o ar que entrava pela rachadura das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, se não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto. [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 63-64)

No último parágrafo do texto, ao observar o emprego de dois-pontos, percebe-se que esse sinal de pontuação foi usado para:
  • A: indicar um esclarecimento.
  • B: marcar enunciados de diálogo.
  • C: representar a reprodução de citações
  • D: sinalizar a omissão de termos
  • E: mostrar a consequência do que se afirmou.

Inverno

A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído, sinhá Vitória de pernas cruzadas, as coxas servindo de travesseiros aos filhos. A cachorra Baleia, com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinza.

Estava um frio medonho, as goteiras pingavam lá fora, o vento sacudia os ramos das catingueiras, e o barulho do rio era como um trovão distante.

Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedra, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e os meninos deitados. De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaços esfriavam recebendo o ar que entrava pela rachadura das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, se não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto. [...]
(RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 63-64)

Em “Fabiano esfregou as mãos satisfeito” (3º§), o vocábulo destacado ilustra o seguinte emprego das classes de palavras:
  • A: a indicação do modo de realizar uma ação feita pelo advérbio.
  • B: a representação de uma ideia abstrata feita pelo substantivo.
  • C: uma qualidade própria às mãos atribuída pelo adjetivo.
  • D: a nomeação de uma qualidade feita por um substantivo.
  • E: a caracterização de um estado provisório feita por um adjetivo.

Exibindo de 6841 até 6850 de 24771 questões.