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É sempre sobre um fundo fixo, é sempre sobre órbitas há muito estabelecidas, que o conhecimento se torna possível. Muito ao contrário de buscar a verdade, o conhecimento tem como função traduzir o desconhecido em conhecido, com o objetivo de tornar ordenado – o que pode ser substituído por humanizado – o que é caótico, o que é devir. Saber, portanto, não é conhecer, mas esquematizar, simplificar, traduzir a pluralidade, o excesso em um esquema reduzido de sinais.
MOSÉ, Viviane. Nietzsche e a grande política da linguagem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. p. 139.

Assinale a alternativa que traduz um argumento correto em relação ao texto
  • A: Os saberes desconhecidos são ordenados a fim de que a verdade se estabeleça a partir da pluralidade dos fenômenos.
  • B: O caos é posterior ao processo de ordenamento, cujo objetivo é mapear e simplificar um mundo desconhecido.
  • C: O conhecimento torna a verdade mapeada, simplificada e a reintegra ao conjunto de saberes humanos.
  • D: O processo de ordenamento da pluralidade transforma o que é conhecido em saberes desconhecidos.
  • E: O ato de transformar o desconhecido em conhecido é uma ação humana de ordenação do caos.

Eis um exemplo da física que parece desafiar qualquer esforço racional de interpretação: o chamado emaranhado quântico. Trata-se de uma propriedade de certos sistemas quânticos tão exótica que Einstein batizou de ação fantasmagórica. O estranho aqui é que esse emaranhado parece implicar que a velocidade da luz não é a velocidade limite na natureza.
GLEISER, Marcelo. A simples beleza do inesperado. Rio de Janeiro, Record, 2016. p. 83.

Quanto ao texto, é correto afirmar:
  • A: há uma complexidade nos fenômenos físicos; todavia, a chamada “ação fantasmagórica” obedece à nossa capacidade de catalogar e cartografar os vieses que a compõem a partir de atividades racionais e antropomórficas
  • B: se Einstein vê o emaranhado cósmico como “ação fantasmagórica”, compreende-se que, por um ato racional, seria capaz de aplicar ao fenômeno conceitos e valores categóricos.
  • C: se o emaranhado quântico desafia a interpretação racional, há em seu construto uma transcendência capaz de desafiar ações antropomórficas sobre os fenômenos físicos.
  • D: a velocidade da luz constitui uma matriz hermética à velocidade limite da natureza, ou seja, ambas se equivalem, ambas se configuram numa relação de paridade.
  • E: o emaranhado quântico também é uma ação antropomórfica sobre os fenômenos físicos, mesmo sendo um fantasma para Einstein.

Até o fim
Chico Buarque e Ney Matogrosso

Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim

O trecho parece ter uma coincidência em relação ao nascimento do eu-lírico “Carlos”, no “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade. Veja:

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

O fenômeno linguístico-discursivo que explica essa coincidência de fatos entre um texto anterior e outro posterior é denominado de
  • A: intermodalidade.
  • B: intertextualidade
  • C: interconectividade
  • D: interseção de textos.
  • E: inter-relacionamento.

Na manhã de ontem, 65% dos moradores de São Joaquim vai acordar com casa nova, promete o prefeito. Grande parte deles perderam suas moradias por causa do temporal ocorrido no mês de julho de 2021. Para receber o beneficio, o morador necessita cadastro nos programas sociais da Prefeitura, o que implica a aceitação tácita das regras previamente estabelecidas para ter direito a casa própria.

Do ponto de vista gramatical, os trechos em destaque apresentam, respectivamente, desvios referentes a:
  • A: regência verbal, regência nominal e crase.
  • B: regência nominal, regência nominal e crase.
  • C: regência nominal, regência nominal e crase.
  • D: concordância verbal, regência verbal e regência nominal.
  • E: concordância verbal, regência nominal e regência verbal.

Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea. Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte que tudo o que veem é a parede da caverna. Atrás delas, ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este teatro de sombras. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 105.

Considere os fragmentos expostos e assinale a alternativa cuja reescrita – entre parênteses – provocou dano à variável culta da língua.
  • A: “Imagine um grupo de pessoas que habitam o interior de uma caverna subterrânea” (Imagine um grupo de pessoas que habita o interior de uma caverna subterrânea).
  • B: “Atrás delas, ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas” (Por trás delas, um muro alto é erguido. Por trás desse muro, projetam-se figuras de formas humanas).
  • C: “E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que veem são a única coisa que existe” (Estando ali desde que nasceram, essas pessoas pensam, que as sombras são a única coisa que existe).
  • D: “Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras bruxuleantes na parede da caverna” (Sombras bruxuleantes são projetadas na parede da caverna, pois há uma fogueira que queima atrás dessas figuras)
  • E: “Elas estão de costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, de sorte tudo o que veem é a parede da caverna” (De costas para a entrada da caverna e acorrentadas no pescoço e nos pés, o que se lhes apresenta, de sorte, é a parede da caverna).

Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. No melhor de nós, vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo do espetáculo. Por vezes, por algumas portas, entrevemos o que talvez não seja senão cenário. Todo mundo é confuso como vozes na noite.
PESSOA, Fernando. Livro do desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 63.

O autor do texto
  • A: abdica das metáforas ao falar de incertezas e dúvidas humanas em tom narrativo
  • B: mostra que a vida é um paradoxo que se associa à consistência e às certezas
  • C: prescinde de estruturas simbólicas da linguagem poética, face à intenção confessional.
  • D: apropria-se da metáfora, em tom poético e narrativo para relevar a inconsistência da vida.
  • E: traz uma variável alegórica para confirmar a natureza racional e objetiva de seu ponto de vista.

Faltando um pedaço
Djavan

O amor é um grande laço
Um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculo
Pra alimentar a matilha

Comparo sua chegada
Com a fuga de uma ilha
Tanto engorda, quanto mata
Feito desgosto de filha
De filha
[...]
Disponível em: . Acesso em: 27. ago. 2022.

Há, no texto
  • A: eufemismo e ironia, na primeira estrofe, e catacrese, na segunda.
  • B: elipse e hipérbato, na primeira estrofe, e metáfora, na segunda.
  • C: hipérbole e aliteração, na primeira estrofe, e comparação, na segunda.
  • D: anáfora e metáfora, na primeira estrofe, e hipérbole, na segunda.
  • E: metáfora e prosopopéia, na primeira estrofe, e comparação, na segunda.

Apesar de a varíola transmitida pelo vírus Monkeypox ser considerada uma doença autolimitada, que geralmente se cura sozinha, em alguns casos pode haver a necessidade de um tratamento medicamentoso específico, sobretudo entre pessoas imunossuprimidas, segundo especialistas e órgãos governamentais de saúde. Já são mais de 1.000 casos confirmados da doença fora da África, onde ela é endêmica, que vem se espalhando pelo mundo nas últimas semanas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por isso, ao aparecer os primeiros sintomas, mesmo que suspeitos, é importante procurar atendimento médico para prescrição da melhor conduta, afirma a diretora do Laboratório de Virologia do Instituto Butantan, Viviane Botosso.

“Se a pessoa já começou a desenvolver os primeiros sintomas, o ideal é procurar um serviço médico, para um diagnóstico assertivo diferenciando de outras doenças que podem ser clinicamente semelhantes e podem confundir. Em caso confirmado, é necessário isolar o paciente e iniciar o tratamento preconizado”, diz Viviane.

Os principais sintomas atribuídos ao Monkeypox são febre, dores no corpo e na cabeça, calafrios e exaustão, que podem durar em média três dias. Eles são seguidos de lesões na pele que evoluem em cinco estágios, conhecidos como mácula, pápulas, vesículas, pústulas e finalmente crostas, estágio final quando caem. É principalmente o contato com elas que causa a transmissão do vírus para outras pessoas.
Disponível em:< https://butantan.gov.br/noticias/o-que-e-recomendado-e o-que-deve-ser-descartadono-tratamento-da-variola-causada-pelo monkeypox>. Acesso em: 27. ago. 2022.

Sobre o texto em tela, é correto afirmar que, do ponto de vista argumentativo,
  • A: o texto pode ser sintetizado como um alerta ao risco de pandemia pelo Monkeypox.
  • B: o autor segue um viés neutro, em que as informações sobre o vírus são tratadas de modo a não utilizar operadores argumentativos.
  • C: uma das estratégias utilizadas é o discurso reportado de autoridade, quer por meio de instituição, quer por meio de especialista sobre o vírus Monkeypox.
  • D: as expressões “apesar de” e “por isso”, que iniciam o primeiro e segundo parágrafos, respectivamente, são semanticamente destituídas de sentido no texto
  • E: a autora do texto, Viviane, reforça, no terceiro parágrafo (“Se a pessoa [...] o tratamento preconizado”), a ideia principal veiculada pelo texto; por isso, o excerto aparece entre aspas.

Dados os seguintes enunciados quanto ao uso do acento grave,

I. À noite, todos os gatos são pardos.
II. Dr. João Pestana, à partir da próxima segunda-feira, atenderá a tarde em novo endereço.
III. O terapeuta, a moda de Freud, acredita que há processos psíquicos inconscientes.
IV. O poeta, à 10m de distância, enxergou à amada.
V. Nosso desejo é namorar Judite às escondidas.

assinale a alternativa correta.
  • A: Em II, o uso do acento grave foi violado duas vezes, sendo na expressão, “à partir”, um caso facultativo.
  • B: Em IV, as duas ocorrências do acento grave expressam usos adequados da crase no Português.
  • C: Em III, não há violação à norma culta padrão da escrita do Português quanto ao uso da crase.
  • D: Em I, o uso do acento grave justifica-se por se tratar de locução adverbial feminina.
  • E: Em V, na locução “às escondidas”, o uso da crase é facultativo.

Como Poe, poeta louco americano
Eu pergunto ao passarinho:
Blackbird, assum preto, o que se faz?
Raven, never, raven, never, raven, never, raven, never, raven
Assum preto, pássaro preto, blackbird, me responde: Tudo já ficou atrás
BELCHIOR. Velha roupa colorida. PolyGram, 1976.

Quanto à intertextualidade nos versos de Belchior, assinale a alternativa correta
  • A: Os termos em inglês se entrecruzam em seus significados à interpretação geral do texto. Como se pode ver, há uma relação sinonímica provocada por alternância de línguas: “blackbird” (pássaro preto), raven (corvo), assum preto.
  • B: Há uma composição de um quadro panorâmico nos versos de Belchior, já que “blackbird” (pássaro preto), “raven” (corvo) e “assum preto” são expressões provenientes da poesia de Poe.
  • C: Os termos em línguas distintas, embora apresentem similaridade de sentido, provocam efeitos antonímicos, ou seja, o paralelismo é por diferença e não por semelhança.
  • D: Essas interconexões linguísticas são alheias à ideia central do texto. Portanto, é possível concluir que os estrangeirismos provocam simplesmente efeitos estéticos.
  • E: São relações de efeito poético, as quais desconsideram os cruzamentos de significados existentes em texto de estrutura linguística híbrida.

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