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O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma oposição. A indistinção fundamental entre as duas formas é prejuízo romântico que teve os seus adeptos mais entusiastas durante o século XIX. De acordo com esses doutrinadores, o Estado e as suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução, da família. A verdade, bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem doméstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo, e não uma depuração sucessiva, uma espiritualização de formas mais naturais e rudimentares.
Em todas as culturas, o processo pelo qual a lei geral suplanta a lei particular faz-se acompanhar de crises mais ou menos graves e prolongadas, que podem afetar profundamente a estrutura da sociedade. Quem compare, por exemplo, o regime do trabalho das velhas corporações e grêmios de artesãos com a “escravidão dos salários” nas usinas modernas tem um elemento precioso para o julgamento da inquietação social de nossos dias. Nas velhas corporações o mestre e seus aprendizes formavam uma só família, cujos membros se sujeitam a uma hierarquia natural, mas que partilham das mesmas privações e confortos. Foi o moderno sistema industrial que, separando os empregadores e empregados nos processos de manufatura e diferenciando cada vez mais suas funções, suprimiu a atmosfera de intimidade que reinava entre uns e outros e estimulou os antagonismos de classe. O novo regime tornava mais fácil, além disso, ao capitalista explorar o trabalho de seus empregados, a troco de salários ínfimos.

Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 141-142 (com adaptações).
Julgue o item seguinte, acerca das ideias e dos aspectos linguísticos do texto precedente.


As expressões “Estado”, “Cidade” e “lei geral” compõem uma rede de significados que constrói a concepção do que se opõe, no texto, a “círculo familiar”, “família” e “lei particular”.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

Assinale a frase em que o emprego da expressão “todo o” está inadequado.
  • A: Todas as interações humanas são oportunidades ou para aprender ou para ensinar.
  • B: Todo o conhecimento humano pode ser resumido em duas palavras: espera e esperança.
  • C: Uma descoberta não consiste em ver o que todo o mundo não viu, mas em pensar o que ninguém ainda pensou.
  • D: O talento é a qualidade que ultrapassa todas as dificuldades.
  • E: O maior elogio que ouvi em toda a minha vida de inventor foi ‘Nunca vai funcionar’.

Leia a frase abaixo com atenção:
Meu marido resolveu gastar só com ele: bares, um tênis de cada cor, uma coleção de relógios. Ganhei um filho. Nos separamos.

Assinale a afirmativa correta sobre seu significado ou estruturação.
  • A: Os gastos do marido revelam egoísmo e desperdício.
  • B: “um tênis de cada cor” mostra adaptação a uma moda jovem, em que um mesmo par de tênis tem mais de uma cor.
  • C: A “coleção de relógios” indica alta competição com os amigos.
  • D: A frase “Ganhei um filho” demonstra que esse filho é fruto de adoção.
  • E: A última oração da frase mostra a causa de a mulher ter ganho um filho.

As frases listadas a seguir pertencem ao livro A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz. Assinale aquela em que a forma “baixo” está mal-empregada.
  • A: “Na sala nobre da sua casa (à Pampulha) pendurou sobre os damascos o retrato do “seu Salvador”, enfeitado de palmitos como um retábulo e, por baixo, a bengala que as magnânimas mãos reais tinham erguido do lixo”.
  • B: “... e de fundas milhas de ruas, cortadas, por baixo e por cima, de fios de telégrafos, de fios de telefones, de canos de gases...”.
  • C: “Pobre Diana!... dos ombros para baixo nem sei se tem a pele cor de neve ou cor de limão”.
  • D: “Então, ante aqueles seres de superior civilização, sorvendo num silêncio devoto as obscenidades que a Gilberte lhes gania, por baixo do solo de Paris, através de fios mergulhados nos esgotos, cingidos aos canos das fezes – pensei na minha aldeia adormecida”.
  • E: “– Isto pôr aqui também é lindo! – gritou ele de baixo. – E o teu palácio tem um soberbo ar... Pôr onde é a porta?”.

Na fala do último quadro ─ Esta vida moderna exige brincadeiras cada vez mais curtas ─, a expressão “exige brincadeiras” pode ser substituída, de acordo com a norma-padrão, por
  • A: reclama com brincadeiras
  • B: impõe sobre brincadeiras
  • C: requer de brincadeiras
  • D: conduz em brincadeiras
  • E: leva a brincadeiras

Durante um seminário sobre a antropologia do dinheiro ministrado na Escola de Economia e Ciência Política de Londres, Jock Stirratt descreveu em um gráfico os usos a que alguns pescadores do Sri Lanka que prosperaram nos últimos anos submetiam sua riqueza recém-adquirida. A renda desses pescadores, antes muito baixa, deu um grande salto desde que o gelo se tornou disponível, o que possibilitou que seus peixes alcançassem, em boas condições, os mercados distantes da costa, onde atingiram preços altos. No entanto, as aldeias de pescadores ainda permanecem isoladas e, à época do estudo, não tinham eletricidade, estradas nem água encanada. Apesar desses desincentivos aparentes, os pescadores mais ricos gastavam os excedentes de seus lucros na compra de aparelhos de televisão inutilizáveis, na construção de garagens em casas a que automóveis sequer tinham acesso e na instalação de caixas-d’água jamais abastecidas. De acordo com Stirratt, isso tudo ocorre por uma imitação entusiasmada da alta classe média das zonas urbanas do Sri Lanka.

É fácil rir de despesas tão grosseiramente excêntricas, cuja aparente falta de propósito utilitário dá a impressão de que, por comparação, pelo menos parte de nosso próprio consumo tem um caráter racional. Como os objetos adquiridos por esses pescadores parecem não ter função em seu meio, não conseguimos entender por que eles deveriam desejá-los. Por outro lado, se eles colecionassem peças antigas de porcelana chinesa e as enterrassem, como fazem os Ibans, seriam considerados sensatos, senão encantados, tal como os temas antropológicos normais. Não pretendo negar as explicações óbvias para esse tipo de comportamento ― ou seja, busca de status, competição entre vizinhos, e assim por diante. Mas penso que também dever-se-ia reconhecer a presença de uma certa vitalidade cultural nessas atrevidas incursões a campos ainda não inexplorados do consumo: a habilidade de transcender o aspecto meramente utilitário dos bens de consumo, de modo que se tornem mais parecidos com obras de arte, carregados de expressão pessoal.



Alfred Gell. Recém-chegados ao mundo dos bens: o consumo entre os Gonde Muria. In: Arjun Appadurai (org). A vida social das coisas: mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Eduff, 2008, p. 147-48 (com adaptações).

No primeiro período do segundo parágrafo do texto CB1A1-I, o vocábulo “aparente” está empregado com o sentido de
  • A: evidente.
  • B: óbvio.
  • C: suposto.
  • D: semelhante.

No trecho “A biodiversidade é o correlato da tecnodiversidade”, a palavra “correlato” tem o mesmo sentido de análogo.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

Texto CB1A1-I
Não estamos opondo máquinas a ecologia, como se as máquinas fossem aquelas coisas que só servem para violentar a Mãe Natureza e violar a harmonia entre o ser humano e a natureza ― uma imagem atribuída à tecnologia desde o fim do século XVIII. Também não estamos seguindo a hipótese de Gaia de que a Terra é um único superorganismo ou uma coletividade de organismos. Em vez disso, gostaria de propor uma reflexão sobre a ecologia das máquinas. Para dar início a essa ecologia das máquinas, precisamos primeiro voltar ao conceito de ecologia. Seu fundamento está na diversidade, já que é apenas com biodiversidade (ou multiespécies que incluam todas as formas de organismos, até mesmo bactérias) que os sistemas ecológicos podem ser conceitualizados. A fim de discutir uma ecologia de máquinas, precisaremos de uma noção diferente e em paralelo com a de biodiversidade ― uma noção a que chamamos tecnodiversidade. A biodiversidade é o correlato da tecnodiversidade, uma vez que sem esta só testemunharemos o desaparecimento de espécies diante de uma racionalidade homogênea. Tomemos como exemplo os pesticidas, que são feitos para matar certa espécie de insetos independentemente de sua localização geográfica, precisamente porque são baseados em análises químicas e biológicas. Sabemos, no entanto, que o uso de um mesmo pesticida pode levar a diversas consequências desastrosas em biomas diferentes. Antes da invenção dessas substâncias, empregavam-se diferentes técnicas para combater os insetos que ameaçavam as colheitas dos produtos agrícolas ― recursos naturais encontrados na região, por exemplo. Ou seja, havia uma tecnodiversidade antes do emprego de pesticidas como solução universal. Os pesticidas aparentam ser mais eficientes a curto prazo, mas hoje é fato bastante consolidado que estávamos o tempo todo olhando para os nossos pés quando pensávamos em um futuro longínquo. Podemos dizer que a tecnodiversidade é, em essência, uma questão de localidade. Localidade não significa necessariamente etnocentrismo ou nacionalismo, mas é aquilo que nos força a repensar o processo de modernização e de globalização e que nos permite refletir sobre a possibilidade de reposicionar as tecnologias modernas.
Yuk Hui. Tecnodiversidade. São Paulo: Ubu Editora, 2020, p. 122-123 (com adaptações).

Ainda com relação aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto CB1A1-I, julgue o seguinte item.

A forma pronominal “Seu”, na oração “Seu fundamento está na diversidade” (quinto período), tem como referente o termo “ecologia das máquinas”, apresentado no período imediatamente anterior.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

No trecho “é apenas com biodiversidade (ou multiespécies que incluam todas as formas de organismos, até mesmo bactérias) que os sistemas ecológicos podem ser conceitualizados”, a oração “que incluam todas as formas de organismos” restringe o sentido do termo “multiespécies”, enquanto todo o segmento entre parênteses especifica a ideia de “biodiversidade” veiculada no texto.
  • A: Certo.
  • B: Errado.

Observe o termo destacado no período que segue: “Vivências negativas não são totalmente deletérias: pessoas que estão passando por momentos de estresse tendem a ajudar mais os outros e valorizam muito mais as relações interpessoais.”. Tal termo, nesse caso, tem sentido equivalente a
  • A: inócuas.
  • B: benéficas.
  • C: indeléveis.
  • D: prejudiciais.
  • E: perduráveis.

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