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Texto 1A1-I


Machado de Assis viria a sofrer, no governo do presidente Prudente de Morais, o que considerou uma grave injustiça. Julgando lhe ser agradável e querendo deixar-lhe mais tempo livre para seus trabalhos literários, o novo ministro, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda — pai do grande tribuno parlamentar Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda — resolveu substituir Machado de Assis na Diretoria de Viação, que então ocupava, deixando-o como simples adido à Secretaria de Estado, percebendo os vencimentos que lhe competissem. Machado ficou muito magoado, achando que o ministro o julgara um inútil. Queixou-se muito, em cartas aos amigos, não se conformando em ficar de braços cruzados, ganhando o dinheiro da nação sem trabalhar. Foi durante esse período que escreveu uma de suas obras-primas, Dom Casmurro; sempre demonstrara, em seus romances, contos e crônicas, profunda aversão aos parasitas. E era sincero. Não queria ser um deles. E não sossegou enquanto não voltou à atividade, embora diminuído funcionalmente: de diretor de um departamento, passou a ser simples secretário do ministro Severino Vieira. Quando este se demitiu, no governo de Campos Sales, para candidatar-se ao governo da Bahia, o ministro da justiça, Epitácio Pessoa, nomeado para substituir interinamente Severino Vieira, não se deu bem com Machado de Assis. Jovem, irrequieto, Epitácio estava então veraneando em Petrópolis. Pela manhã, atendia ao expediente da pasta da justiça. À tarde, ia para o outro ministério, onde Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada assunto, apresentando-lhe em seguida as minutas dos despachos. Epitácio queria sempre abreviar as exposições, a fim de não perder a barca que saía da Prainha para Mauá, no fundo da baía, de onde, nos fins do século XIX, partia o trem para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a barca, só tomando a segunda e chegando à casa já em plena noite. Por isso, um dia disse a respeito de Machado: “Grande escritor, mas péssimo secretário!”. Talvez Machado, sem o dizer, pensasse a mesma coisa de Epitácio: “Moço inteligente, mas muito afobado para ser um bom ministro!”.

Machado passou vários anos constrangido e humilhado até encontrar, em Lauro Müller — o grande ministro da viação que iniciou as obras do Porto do Rio de Janeiro e fez construir a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco — quem lhe fizesse justiça. Lauro Müller fez Machado voltar a ser diretor.


Raymundo Magalhães Jr. Machado de Assis funcionário público. In: Revista do Serviço Público, Brasília, 56(2), abr. – jun./2005, p. 237-248 (com adaptações).

De acordo com a perspectiva do autor do texto 1A1-I, Machado de Assis, na qualidade de funcionário público, era
  • A: criativo.
  • B: irrequieto.
  • C: resiliente.
  • D: dedicado.
  • E: mal remunerado.

Texto 1A1-I


Machado de Assis viria a sofrer, no governo do presidente Prudente de Morais, o que considerou uma grave injustiça. Julgando lhe ser agradável e querendo deixar-lhe mais tempo livre para seus trabalhos literários, o novo ministro, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda — pai do grande tribuno parlamentar Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda — resolveu substituir Machado de Assis na Diretoria de Viação, que então ocupava, deixando-o como simples adido à Secretaria de Estado, percebendo os vencimentos que lhe competissem. Machado ficou muito magoado, achando que o ministro o julgara um inútil. Queixou-se muito, em cartas aos amigos, não se conformando em ficar de braços cruzados, ganhando o dinheiro da nação sem trabalhar. Foi durante esse período que escreveu uma de suas obras-primas, Dom Casmurro; sempre demonstrara, em seus romances, contos e crônicas, profunda aversão aos parasitas. E era sincero. Não queria ser um deles. E não sossegou enquanto não voltou à atividade, embora diminuído funcionalmente: de diretor de um departamento, passou a ser simples secretário do ministro Severino Vieira. Quando este se demitiu, no governo de Campos Sales, para candidatar-se ao governo da Bahia, o ministro da justiça, Epitácio Pessoa, nomeado para substituir interinamente Severino Vieira, não se deu bem com Machado de Assis. Jovem, irrequieto, Epitácio estava então veraneando em Petrópolis. Pela manhã, atendia ao expediente da pasta da justiça. À tarde, ia para o outro ministério, onde Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada assunto, apresentando-lhe em seguida as minutas dos despachos. Epitácio queria sempre abreviar as exposições, a fim de não perder a barca que saía da Prainha para Mauá, no fundo da baía, de onde, nos fins do século XIX, partia o trem para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a barca, só tomando a segunda e chegando à casa já em plena noite. Por isso, um dia disse a respeito de Machado: “Grande escritor, mas péssimo secretário!”. Talvez Machado, sem o dizer, pensasse a mesma coisa de Epitácio: “Moço inteligente, mas muito afobado para ser um bom ministro!”.

Machado passou vários anos constrangido e humilhado até encontrar, em Lauro Müller — o grande ministro da viação que iniciou as obras do Porto do Rio de Janeiro e fez construir a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco — quem lhe fizesse justiça. Lauro Müller fez Machado voltar a ser diretor.


Raymundo Magalhães Jr. Machado de Assis funcionário público. In: Revista do Serviço Público, Brasília, 56(2), abr. – jun./2005, p. 237-248 (com adaptações).

Com base na abordagem da trajetória de Machado de Assis como funcionário público apresentada no texto 1A1-I, conclui-se que
  • A: a conduta dos burocratas da época revelava seu desprezo pela carreira literária de Machado de Assis.
  • B: Machado de Assis foi destituído do cargo de diretor de viação para que um familiar do ministro Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda o ocupasse.
  • C: a obra Dom Casmurro foi escrita para retratar, literariamente, as desventuras de Machado de Assis como funcionário público.
  • D: Machado de Assis ocupou cargos públicos importantes devido à sua competência, e não à sua fama como escritor.
  • E: as chefias às quais Machado de Assis se subordinou consideravam-no inapto para as tarefas do serviço público.

Texto 1A1-I


Machado de Assis viria a sofrer, no governo do presidente Prudente de Morais, o que considerou uma grave injustiça. Julgando lhe ser agradável e querendo deixar-lhe mais tempo livre para seus trabalhos literários, o novo ministro, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda — pai do grande tribuno parlamentar Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda — resolveu substituir Machado de Assis na Diretoria de Viação, que então ocupava, deixando-o como simples adido à Secretaria de Estado, percebendo os vencimentos que lhe competissem. Machado ficou muito magoado, achando que o ministro o julgara um inútil. Queixou-se muito, em cartas aos amigos, não se conformando em ficar de braços cruzados, ganhando o dinheiro da nação sem trabalhar. Foi durante esse período que escreveu uma de suas obras-primas, Dom Casmurro; sempre demonstrara, em seus romances, contos e crônicas, profunda aversão aos parasitas. E era sincero. Não queria ser um deles. E não sossegou enquanto não voltou à atividade, embora diminuído funcionalmente: de diretor de um departamento, passou a ser simples secretário do ministro Severino Vieira. Quando este se demitiu, no governo de Campos Sales, para candidatar-se ao governo da Bahia, o ministro da justiça, Epitácio Pessoa, nomeado para substituir interinamente Severino Vieira, não se deu bem com Machado de Assis. Jovem, irrequieto, Epitácio estava então veraneando em Petrópolis. Pela manhã, atendia ao expediente da pasta da justiça. À tarde, ia para o outro ministério, onde Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada assunto, apresentando-lhe em seguida as minutas dos despachos. Epitácio queria sempre abreviar as exposições, a fim de não perder a barca que saía da Prainha para Mauá, no fundo da baía, de onde, nos fins do século XIX, partia o trem para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a barca, só tomando a segunda e chegando à casa já em plena noite. Por isso, um dia disse a respeito de Machado: “Grande escritor, mas péssimo secretário!”. Talvez Machado, sem o dizer, pensasse a mesma coisa de Epitácio: “Moço inteligente, mas muito afobado para ser um bom ministro!”.

Machado passou vários anos constrangido e humilhado até encontrar, em Lauro Müller — o grande ministro da viação que iniciou as obras do Porto do Rio de Janeiro e fez construir a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco — quem lhe fizesse justiça. Lauro Müller fez Machado voltar a ser diretor.


Raymundo Magalhães Jr. Machado de Assis funcionário público. In: Revista do Serviço Público, Brasília, 56(2), abr. – jun./2005, p. 237-248 (com adaptações).

No texto 1A1-I, predomina o tipo textual
  • A: descritivo, mas há também trechos narrativos.
  • B: dissertativo, mas há também trechos descritivos.
  • C: argumentativo, mas há também trechos descritivos.
  • D: expositivo, mas há também trechos argumentativos.
  • E: narrativo, mas há também trechos expositivos.

Texto 1A1-I


Machado de Assis viria a sofrer, no governo do presidente Prudente de Morais, o que considerou uma grave injustiça. Julgando lhe ser agradável e querendo deixar-lhe mais tempo livre para seus trabalhos literários, o novo ministro, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda — pai do grande tribuno parlamentar Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda — resolveu substituir Machado de Assis na Diretoria de Viação, que então ocupava, deixando-o como simples adido à Secretaria de Estado, percebendo os vencimentos que lhe competissem. Machado ficou muito magoado, achando que o ministro o julgara um inútil. Queixou-se muito, em cartas aos amigos, não se conformando em ficar de braços cruzados, ganhando o dinheiro da nação sem trabalhar. Foi durante esse período que escreveu uma de suas obras-primas, Dom Casmurro; sempre demonstrara, em seus romances, contos e crônicas, profunda aversão aos parasitas. E era sincero. Não queria ser um deles. E não sossegou enquanto não voltou à atividade, embora diminuído funcionalmente: de diretor de um departamento, passou a ser simples secretário do ministro Severino Vieira. Quando este se demitiu, no governo de Campos Sales, para candidatar-se ao governo da Bahia, o ministro da justiça, Epitácio Pessoa, nomeado para substituir interinamente Severino Vieira, não se deu bem com Machado de Assis. Jovem, irrequieto, Epitácio estava então veraneando em Petrópolis. Pela manhã, atendia ao expediente da pasta da justiça. À tarde, ia para o outro ministério, onde Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada assunto, apresentando-lhe em seguida as minutas dos despachos. Epitácio queria sempre abreviar as exposições, a fim de não perder a barca que saía da Prainha para Mauá, no fundo da baía, de onde, nos fins do século XIX, partia o trem para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a barca, só tomando a segunda e chegando à casa já em plena noite. Por isso, um dia disse a respeito de Machado: “Grande escritor, mas péssimo secretário!”. Talvez Machado, sem o dizer, pensasse a mesma coisa de Epitácio: “Moço inteligente, mas muito afobado para ser um bom ministro!”.

Machado passou vários anos constrangido e humilhado até encontrar, em Lauro Müller — o grande ministro da viação que iniciou as obras do Porto do Rio de Janeiro e fez construir a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco — quem lhe fizesse justiça. Lauro Müller fez Machado voltar a ser diretor.


Raymundo Magalhães Jr. Machado de Assis funcionário público. In: Revista do Serviço Público, Brasília, 56(2), abr. – jun./2005, p. 237-248 (com adaptações).

A respeito do emprego da vírgula no primeiro período do texto 1A1-I, assinale a opção correta.
  • A: A vírgula após “sofrer” é dispensável, visto que o termo adverbial “no governo (...) Morais” está posicionado ao final da oração principal.
  • B: O trecho “no governo (...) Morais” está isolado entre vírgulas por consistir em um termo com função adverbial intercalado no período.
  • C: A inserção de uma vírgula após “presidente” implicaria ênfase ao nome “Prudente de Morais”, sem modificar as relações sintáticas do período.
  • D: O emprego da vírgula após “Morais” tem a finalidade de demarcar o início de uma oração explicativa.
  • E: As vírgulas sinalizam uma sequência enumerativa de termos no período em questão.

Texto 1A1-I


Machado de Assis viria a sofrer, no governo do presidente Prudente de Morais, o que considerou uma grave injustiça. Julgando lhe ser agradável e querendo deixar-lhe mais tempo livre para seus trabalhos literários, o novo ministro, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda — pai do grande tribuno parlamentar Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda — resolveu substituir Machado de Assis na Diretoria de Viação, que então ocupava, deixando-o como simples adido à Secretaria de Estado, percebendo os vencimentos que lhe competissem. Machado ficou muito magoado, achando que o ministro o julgara um inútil. Queixou-se muito, em cartas aos amigos, não se conformando em ficar de braços cruzados, ganhando o dinheiro da nação sem trabalhar. Foi durante esse período que escreveu uma de suas obras-primas, Dom Casmurro; sempre demonstrara, em seus romances, contos e crônicas, profunda aversão aos parasitas. E era sincero. Não queria ser um deles. E não sossegou enquanto não voltou à atividade, embora diminuído funcionalmente: de diretor de um departamento, passou a ser simples secretário do ministro Severino Vieira. Quando este se demitiu, no governo de Campos Sales, para candidatar-se ao governo da Bahia, o ministro da justiça, Epitácio Pessoa, nomeado para substituir interinamente Severino Vieira, não se deu bem com Machado de Assis. Jovem, irrequieto, Epitácio estava então veraneando em Petrópolis. Pela manhã, atendia ao expediente da pasta da justiça. À tarde, ia para o outro ministério, onde Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada assunto, apresentando-lhe em seguida as minutas dos despachos. Epitácio queria sempre abreviar as exposições, a fim de não perder a barca que saía da Prainha para Mauá, no fundo da baía, de onde, nos fins do século XIX, partia o trem para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a barca, só tomando a segunda e chegando à casa já em plena noite. Por isso, um dia disse a respeito de Machado: “Grande escritor, mas péssimo secretário!”. Talvez Machado, sem o dizer, pensasse a mesma coisa de Epitácio: “Moço inteligente, mas muito afobado para ser um bom ministro!”.

Machado passou vários anos constrangido e humilhado até encontrar, em Lauro Müller — o grande ministro da viação que iniciou as obras do Porto do Rio de Janeiro e fez construir a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco — quem lhe fizesse justiça. Lauro Müller fez Machado voltar a ser diretor.


Raymundo Magalhães Jr. Machado de Assis funcionário público. In: Revista do Serviço Público, Brasília, 56(2), abr. – jun./2005, p. 237-248 (com adaptações).

A forma pronominal “lhe”, em “Julgando lhe ser agradável” (segundo período do primeiro parágrafo do texto 1A1-I), exerce a função de
  • A: complemento indireto da forma verbal “Julgando”, referindo-se ao ministro Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda.
  • B: complemento indireto da forma verbal “Julgando”, referindo-se ao presidente Prudente de Morais.
  • C: complemento nominal de “agradável”, referindo-se a Machado de Assis.
  • D: complemento nominal de “agradável”, referindo-se ao ministro Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda.
  • E: complemento indireto da forma verbal “Julgando”, referindo-se a Machado de Assis.

Texto 1A1-I


Machado de Assis viria a sofrer, no governo do presidente Prudente de Morais, o que considerou uma grave injustiça. Julgando lhe ser agradável e querendo deixar-lhe mais tempo livre para seus trabalhos literários, o novo ministro, Sebastião Eurico Gonçalves de Lacerda — pai do grande tribuno parlamentar Maurício de Lacerda e avô de Carlos Lacerda — resolveu substituir Machado de Assis na Diretoria de Viação, que então ocupava, deixando-o como simples adido à Secretaria de Estado, percebendo os vencimentos que lhe competissem. Machado ficou muito magoado, achando que o ministro o julgara um inútil. Queixou-se muito, em cartas aos amigos, não se conformando em ficar de braços cruzados, ganhando o dinheiro da nação sem trabalhar. Foi durante esse período que escreveu uma de suas obras-primas, Dom Casmurro; sempre demonstrara, em seus romances, contos e crônicas, profunda aversão aos parasitas. E era sincero. Não queria ser um deles. E não sossegou enquanto não voltou à atividade, embora diminuído funcionalmente: de diretor de um departamento, passou a ser simples secretário do ministro Severino Vieira. Quando este se demitiu, no governo de Campos Sales, para candidatar-se ao governo da Bahia, o ministro da justiça, Epitácio Pessoa, nomeado para substituir interinamente Severino Vieira, não se deu bem com Machado de Assis. Jovem, irrequieto, Epitácio estava então veraneando em Petrópolis. Pela manhã, atendia ao expediente da pasta da justiça. À tarde, ia para o outro ministério, onde Machado de Assis lhe fazia minuciosas exposições sobre cada assunto, apresentando-lhe em seguida as minutas dos despachos. Epitácio queria sempre abreviar as exposições, a fim de não perder a barca que saía da Prainha para Mauá, no fundo da baía, de onde, nos fins do século XIX, partia o trem para Petrópolis. Algumas vezes perdeu a barca, só tomando a segunda e chegando à casa já em plena noite. Por isso, um dia disse a respeito de Machado: “Grande escritor, mas péssimo secretário!”. Talvez Machado, sem o dizer, pensasse a mesma coisa de Epitácio: “Moço inteligente, mas muito afobado para ser um bom ministro!”.

Machado passou vários anos constrangido e humilhado até encontrar, em Lauro Müller — o grande ministro da viação que iniciou as obras do Porto do Rio de Janeiro e fez construir a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco — quem lhe fizesse justiça. Lauro Müller fez Machado voltar a ser diretor.


Raymundo Magalhães Jr. Machado de Assis funcionário público. In: Revista do Serviço Público, Brasília, 56(2), abr. – jun./2005, p. 237-248 (com adaptações).

Infere-se do texto 1A1-I que, na percepção do ministro da justiça Epitácio Pessoa, Machado de Assis era um ‘péssimo secretário’ porque
  • A: priorizava seu ofício de escritor.
  • B: chegava atrasado ao trabalho frequentemente.
  • C: tinha provocado a demissão do ministro Severino Vieira.
  • D: delongava-se em suas explanações sobre o trabalho.
  • E: recebia dinheiro público sem prestar serviço ao Estado.

Texto 1A1-II


Como é possível que hoje, amanhã ou depois tornem a falar em crise ministerial, venho sugerir aos meus amigos um pequeno obséquio. Refiro-me à inclusão de meu nome nas listas de ministérios, que é de costume publicar anonimamente, com endereço ao imperador.

Há de parecer esquisito que eu, até aqui pacato, solicite uma fineza destas que trescala a pura ambição. Explico-me com duas palavras e deixo de lado outras duas que também podiam ter muito valor, mas que não são a causa do meu pedido. (...)

A primeira coisa é toda subjetiva; é para ter o gosto de reter o meu nome impresso, entre outros seis, para ministro de Estado. Ministro de quê? De qualquer coisa: contanto que o meu nome figure, importa pouco a designação. Ainda que fosse de verdade, eu não faria questão de pastas, quanto mais não sendo. Quero só o gosto; é só para ler de manhã, sete ou oito vezes, e andar com a folha no bolso, tirá-la de quando em quando, e ler para mim. E saborear comigo o prazer de ver o meu nome designado para governar.

Agora a segunda coisa, que é menos recôndita. Tenho alguns parentes, vizinhos e amigos, uns na corte e outros no interior, e desejava que eles lessem o meu nome nas listas ministeriais, pela importância que isto me daria. Creia o leitor que só a presença do nome na lista me faria muito bem. Faz-se sempre bom juízo de um homem lembrado, em papéis públicos, para ocupar um lugar nos conselhos da coroa, e a influência da gente cresce. Eu, por exemplo, que nunca alcancei dar certa expressão ao meu estilo, pode ser que a tivesse daí em diante; expressão no estilo e olhos azuis na casa. Tudo isso por uma lista anônima, assinada — Um brasileiro ou A Pátria.

(...)

Eia. Venha de lá esse obséquio! Que diabo, custa pouco e rende muito! Porque a gratidão de um coração honesto é moeda preciosíssima. Mas pode render ainda mais. Sim, suponhamos, não digo que aconteça assim mesmo; mas suponhamos que o imperador, ao ler o meu nome, diga consigo que bem podia experimentar os meus talentos políticos e administrativos e inclua o meu nome no novo gabinete. Pelo amor de Deus, não me atribuam a afirmação de um tal caso; digo só que pode acontecer. E pergunto, dado que assim seja, se não é melhor ter no ministério um amigo, antes do que um inimigo ou um indiferente?

Não cobiço tanto, contento-me com ser lembrado. Terei sido ministro relativamente.

Machado de Assis. Balas de estalo. In: Crônicas escolhidas de Machado de Assis. Coleção Folha Não Dá pra Não Ler. São Paulo: Ática, 1994, p. 60-62 (com adaptações).

No início do quarto parágrafo do texto 1A1-II, o vocábulo “recôndita” tem o mesmo sentido de
  • A: vergonhosa.
  • B: importante.
  • C: íntima.
  • D: arrojada.
  • E: presunçosa.

Texto 1A1-II


Como é possível que hoje, amanhã ou depois tornem a falar em crise ministerial, venho sugerir aos meus amigos um pequeno obséquio. Refiro-me à inclusão de meu nome nas listas de ministérios, que é de costume publicar anonimamente, com endereço ao imperador.

Há de parecer esquisito que eu, até aqui pacato, solicite uma fineza destas que trescala a pura ambição. Explico-me com duas palavras e deixo de lado outras duas que também podiam ter muito valor, mas que não são a causa do meu pedido. (...)

A primeira coisa é toda subjetiva; é para ter o gosto de reter o meu nome impresso, entre outros seis, para ministro de Estado. Ministro de quê? De qualquer coisa: contanto que o meu nome figure, importa pouco a designação. Ainda que fosse de verdade, eu não faria questão de pastas, quanto mais não sendo. Quero só o gosto; é só para ler de manhã, sete ou oito vezes, e andar com a folha no bolso, tirá-la de quando em quando, e ler para mim. E saborear comigo o prazer de ver o meu nome designado para governar.

Agora a segunda coisa, que é menos recôndita. Tenho alguns parentes, vizinhos e amigos, uns na corte e outros no interior, e desejava que eles lessem o meu nome nas listas ministeriais, pela importância que isto me daria. Creia o leitor que só a presença do nome na lista me faria muito bem. Faz-se sempre bom juízo de um homem lembrado, em papéis públicos, para ocupar um lugar nos conselhos da coroa, e a influência da gente cresce. Eu, por exemplo, que nunca alcancei dar certa expressão ao meu estilo, pode ser que a tivesse daí em diante; expressão no estilo e olhos azuis na casa. Tudo isso por uma lista anônima, assinada — Um brasileiro ou A Pátria.

(...)

Eia. Venha de lá esse obséquio! Que diabo, custa pouco e rende muito! Porque a gratidão de um coração honesto é moeda preciosíssima. Mas pode render ainda mais. Sim, suponhamos, não digo que aconteça assim mesmo; mas suponhamos que o imperador, ao ler o meu nome, diga consigo que bem podia experimentar os meus talentos políticos e administrativos e inclua o meu nome no novo gabinete. Pelo amor de Deus, não me atribuam a afirmação de um tal caso; digo só que pode acontecer. E pergunto, dado que assim seja, se não é melhor ter no ministério um amigo, antes do que um inimigo ou um indiferente?

Não cobiço tanto, contento-me com ser lembrado. Terei sido ministro relativamente.

Machado de Assis. Balas de estalo. In: Crônicas escolhidas de Machado de Assis. Coleção Folha Não Dá pra Não Ler. São Paulo: Ática, 1994, p. 60-62 (com adaptações).

Assinale a opção correta acerca do emprego do vocábulo “que” no segundo parágrafo do texto 1A1-II.
  • A: Nas suas três últimas ocorrências no parágrafo, esse vocábulo poderia ser substituído por as quais, sem prejuízo da correção gramatical do texto.
  • B: Nas suas duas últimas ocorrências no parágrafo, esse vocábulo retoma o mesmo termo.
  • C: Na sua primeira ocorrência no parágrafo, esse vocábulo introduz uma oração adjetiva com sentido explicativo.
  • D: Na sua última ocorrência no parágrafo, esse vocábulo introduz uma oração adverbial com sentido de oposição.
  • E: Em todas as suas ocorrências no parágrafo, esse vocábulo exerce a mesma função sintática.

Texto 1A1-II


Como é possível que hoje, amanhã ou depois tornem a falar em crise ministerial, venho sugerir aos meus amigos um pequeno obséquio. Refiro-me à inclusão de meu nome nas listas de ministérios, que é de costume publicar anonimamente, com endereço ao imperador.

Há de parecer esquisito que eu, até aqui pacato, solicite uma fineza destas que trescala a pura ambição. Explico-me com duas palavras e deixo de lado outras duas que também podiam ter muito valor, mas que não são a causa do meu pedido. (...)

A primeira coisa é toda subjetiva; é para ter o gosto de reter o meu nome impresso, entre outros seis, para ministro de Estado. Ministro de quê? De qualquer coisa: contanto que o meu nome figure, importa pouco a designação. Ainda que fosse de verdade, eu não faria questão de pastas, quanto mais não sendo. Quero só o gosto; é só para ler de manhã, sete ou oito vezes, e andar com a folha no bolso, tirá-la de quando em quando, e ler para mim. E saborear comigo o prazer de ver o meu nome designado para governar.

Agora a segunda coisa, que é menos recôndita. Tenho alguns parentes, vizinhos e amigos, uns na corte e outros no interior, e desejava que eles lessem o meu nome nas listas ministeriais, pela importância que isto me daria. Creia o leitor que só a presença do nome na lista me faria muito bem. Faz-se sempre bom juízo de um homem lembrado, em papéis públicos, para ocupar um lugar nos conselhos da coroa, e a influência da gente cresce. Eu, por exemplo, que nunca alcancei dar certa expressão ao meu estilo, pode ser que a tivesse daí em diante; expressão no estilo e olhos azuis na casa. Tudo isso por uma lista anônima, assinada — Um brasileiro ou A Pátria.

(...)

Eia. Venha de lá esse obséquio! Que diabo, custa pouco e rende muito! Porque a gratidão de um coração honesto é moeda preciosíssima. Mas pode render ainda mais. Sim, suponhamos, não digo que aconteça assim mesmo; mas suponhamos que o imperador, ao ler o meu nome, diga consigo que bem podia experimentar os meus talentos políticos e administrativos e inclua o meu nome no novo gabinete. Pelo amor de Deus, não me atribuam a afirmação de um tal caso; digo só que pode acontecer. E pergunto, dado que assim seja, se não é melhor ter no ministério um amigo, antes do que um inimigo ou um indiferente?

Não cobiço tanto, contento-me com ser lembrado. Terei sido ministro relativamente.

Machado de Assis. Balas de estalo. In: Crônicas escolhidas de Machado de Assis. Coleção Folha Não Dá pra Não Ler. São Paulo: Ática, 1994, p. 60-62 (com adaptações).

É correto concluir do texto 1A1-II que o cronista
  • A: gostaria de ser reconhecido como porta-voz da oposição ao governo.
  • B: implora para ser nomeado no cargo de ministro.
  • C: está em campanha política por causa de uma crise ministerial iminente.
  • D: está apenas sedento de fama.
  • E: está ironizando a sede de fama e as crises ministeriais.

Texto 1A1-II


Como é possível que hoje, amanhã ou depois tornem a falar em crise ministerial, venho sugerir aos meus amigos um pequeno obséquio. Refiro-me à inclusão de meu nome nas listas de ministérios, que é de costume publicar anonimamente, com endereço ao imperador.

Há de parecer esquisito que eu, até aqui pacato, solicite uma fineza destas que trescala a pura ambição. Explico-me com duas palavras e deixo de lado outras duas que também podiam ter muito valor, mas que não são a causa do meu pedido. (...)

A primeira coisa é toda subjetiva; é para ter o gosto de reter o meu nome impresso, entre outros seis, para ministro de Estado. Ministro de quê? De qualquer coisa: contanto que o meu nome figure, importa pouco a designação. Ainda que fosse de verdade, eu não faria questão de pastas, quanto mais não sendo. Quero só o gosto; é só para ler de manhã, sete ou oito vezes, e andar com a folha no bolso, tirá-la de quando em quando, e ler para mim. E saborear comigo o prazer de ver o meu nome designado para governar.

Agora a segunda coisa, que é menos recôndita. Tenho alguns parentes, vizinhos e amigos, uns na corte e outros no interior, e desejava que eles lessem o meu nome nas listas ministeriais, pela importância que isto me daria. Creia o leitor que só a presença do nome na lista me faria muito bem. Faz-se sempre bom juízo de um homem lembrado, em papéis públicos, para ocupar um lugar nos conselhos da coroa, e a influência da gente cresce. Eu, por exemplo, que nunca alcancei dar certa expressão ao meu estilo, pode ser que a tivesse daí em diante; expressão no estilo e olhos azuis na casa. Tudo isso por uma lista anônima, assinada — Um brasileiro ou A Pátria.

(...)

Eia. Venha de lá esse obséquio! Que diabo, custa pouco e rende muito! Porque a gratidão de um coração honesto é moeda preciosíssima. Mas pode render ainda mais. Sim, suponhamos, não digo que aconteça assim mesmo; mas suponhamos que o imperador, ao ler o meu nome, diga consigo que bem podia experimentar os meus talentos políticos e administrativos e inclua o meu nome no novo gabinete. Pelo amor de Deus, não me atribuam a afirmação de um tal caso; digo só que pode acontecer. E pergunto, dado que assim seja, se não é melhor ter no ministério um amigo, antes do que um inimigo ou um indiferente?

Não cobiço tanto, contento-me com ser lembrado. Terei sido ministro relativamente.

Machado de Assis. Balas de estalo. In: Crônicas escolhidas de Machado de Assis. Coleção Folha Não Dá pra Não Ler. São Paulo: Ática, 1994, p. 60-62 (com adaptações).

No terceiro parágrafo do texto 1A1-II, a oração introduzida pela expressão “contanto que” veicula ideia de
  • A: condição em relação à oração imediatamente subsequente.
  • B: consequência em relação ao segmento finalizado com dois-pontos.
  • C: concessão em relação à oração imediatamente subsequente.
  • D: causa em relação à oração imediatamente subsequente.
  • E: conclusão em relação ao segmento finalizado pelos dois-pontos.

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