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 A gente ainda não sabia
 
A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,
deveria haver num velho poste uma tabuleta qualquer
– uma tabuleta meio torta
onde se lia, em letras rústicas: FIM DO MUNDO.
Ah! depois nos ensinaram que o mundo não tem fim
e não havia remédio senão irmos andando às tontas
como formigas na casca de uma laranja.
Como era possível, como era possível, meu Deus,
viver naquela confusão?
Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins de mundo...
                                           (Mário Quintana, A vaca e o hipogrifo)



As expressões destacadas nos trechos – … uma tabuleta qualquer… – e – … andando às tontas – exprimem nesses contextos as ideias, respectivamente, de
  • A: indefinição e lugar
  • B: especificação e modo.
  • C: indeterminação e modo.
  • D: qualidade e lugar.
  • E: indefinição e direção.

Assinale a alternativa em que uma outra redação dada a trecho do poema está de acordo com a norma-padrão de concordância.
  • A: Tabuletas meio tortas e onde se lia frases.
  • B: Deveriam existir em velhos postes umas tabuletas quaisquer.
  • C: Não haviam remédios senão irmos andando às tontas.
  • D: E pensavam-se em lugares muito distante.
  • E: Mais de um ainda não sabiam que a Terra era redonda.



É correto concluir que o humor da tira decorre
  • A: do emprego de frases na forma negativa.
  • B: da impertinência da pergunta do pato.
  • C: da manifestação de inconformismo da formiga.
  • D: da exploração do duplo sentido de palavra.
  • E: da falta de sentido das palavras empregadas pelas personagens.

Assinale a alternativa que preenche, respectivamente e de acordo com a norma-padrão, as lacunas das frases baseadas no texto dos quadrinhos.

• O pato______ formiga como estava a distribuição de renda no formigueiro.

• Quanto à minha baiana, minha renda não dá nem para______ no carnaval.
  • A: indagou à … enfeitar ela.
  • B: indagou a … enfeitar a ela.
  • C: perguntou a … a enfeitar.
  • D: indagou a … lhe enfeitar.
  • E: perguntou à … enfeitá-la.



 Andava na calçada quando vi uma mulher vindo em minha direção, grudada no celular e sem, portanto, olhar por onde ia. Se não desviasse dela, fatalmente nos chocaríamos. Como sou intimamente malvado, parei de repente e dei meia-volta, como se olhasse para trás: a senhora em questão bateu de frente com minhas costas. Eu tinha contraído o corpo para receber o impacto e resisti bem, ela entrou em tilt*, o celular caiu, percebeu que tinha esbarrado em alguém que não podia vê-la e que, portanto, a responsabilidade de desviar era dela. Balbuciou algumas desculpas, enquanto eu respondia com humanidade: “Não se preocupe, isso é comum hoje em dia.”
      Espero que o celular tenha se quebrado ao cair e aconselho a quem se encontrar numa situação parecida que se comporte como eu.
(Umberto Eco, O celular e a rainha de “Branca de Neve”. Pape Satàn Aleppe – crônicas de uma sociedade líquida)
* Entrar em tilt: entrar em pane.



Com base nas informações do texto, é correto concluir que o narrador agiu de forma
  • A: impensada e ingênua.
  • B: inteligente e espalhafatosa.
  • C: proposital e ardilosa.
  • D: inadvertida e compreensiva.
  • E: deliberada e insultuosa.

A expressão em destaque na passagem – ... percebeu que tinha esbarrado em alguém que não podia vê-la e que, portanto, a responsabilidade de desviar era dela. – expressa a ideia de
  • A: explicação, podendo ser substituída, com coerência, por porém.
  • B: causa, podendo ser substituída, com coerência, por porque.
  • C: tempo, podendo ser substituída, com coerência, por então.
  • D: modo, podendo ser substituída, com coerência, por assim.
  • E: conclusão, podendo ser substituída, com coerência, por logo




Andava na calçada quando vi uma mulher vindo em minha direção, grudada no celular e sem, portanto, olhar por onde ia. Se não desviasse dela, fatalmente nos chocaríamos. Como sou intimamente malvado, parei de repente e dei meia-volta, como se olhasse para trás: a senhora em questão bateu de frente com minhas costas. Eu tinha contraído o corpo para receber o impacto e resisti bem, ela entrou em tilt*, o celular caiu, percebeu que tinha esbarrado em alguém que não podia vê-la e que, portanto, a responsabilidade de desviar era dela. Balbuciou algumas desculpas, enquanto eu respondia com humanidade: “Não se preocupe, isso é comum hoje em dia.”

Espero que o celular tenha se quebrado ao cair e aconselho a quem se encontrar numa situação parecida que se comporte como eu.

(Umberto Eco, O celular e a rainha de “Branca de Neve”. Pape Satàn Aleppe – crônicas de uma sociedade líquida)

* Entrar em tilt: entrar em pane.



A relação de sentido que existe entre as palavras trás e frente, empregadas no texto, está presente também entre
  • A: fatalmente e irremediavelmente.
  • B: resisti e impedi.
  • C: responsabilidade e comprometimento.
  • D: comum e inusitado.
  • E: malvado e dissimulado.

Assinale a alternativa em que os verbos conjugados e a colocação dos pronomes em destaque apresentam-se de acordo com a norma-padrão.
  • A: Se eu vir uma mulher vindo em minha direção, não me desviarei dela.
  • B: Me esforcei para que a mulher me visse e se desviava de mim.
  • C: Talvez eu tinha evitado o choque se tinha desviado-me da mulher.
  • D: Desviem-se das pessoas quando verem que elas vêm em sua direção.
  • E: Se nos vermos diante de uma pessoa distraída, evitaremos colidir com ela.



A quem pertence um país e quem tem o direito de morar nele? Com um passado incomparável e camadas históricas extraordinariamente variadas, inclusive em seus momentos de fluxo e refluxo populacional, a Itália já fechou o debate. A lotação está esgotada. Foram mais de 180000 pessoas, na maioria absoluta vindas da África, no ano passado. Até organizações humanitárias dizem que não dá mais para acomodar gente em cidadezinhas minúsculas, vilarejos medievais ou bairros distantes de uma metrópole como Roma.
      As ondas humanas criaram situações sem precedentes. As ONGs para as quais sempre cabem muitos mais tornaram-se colaboradoras dos traficantes que ganham com o comércio de gente, um escândalo ético espantoso. Começaram a fazer o bem e se transformaram em parte integrante de um processo de imensa perversidade, cujos promotores praticam abusos indescritíveis. Embora cruel, o sistema é de uma eficiência impressionante. Até os botes de borracha, cujos passageiros pagam para ser resgatados por navios de ONGs, da Marinha italiana ou de outros países europeus, são fabricados especificamente para esse tipo de transporte. Cada passagem custa por volta de 1500 euros, ou 5500 reais. O negócio foi calculado em 390 milhões de dólares no ano passado.
      A questão dos grandes deslocamentos humanos vindos do mundo pobre, encrencado, conflagrado ou simplesmente com menos benefícios sociais, em direção ao mundo rico, já provocou conhecidas reações políticas, das quais a mais estrondosa foi a eleição de Donald Trump. A palavra-chave no fenômeno atual é benefícios. Ao contrário dos imigrantes que vieram para o Novo Mundo, entre os quais tantos de nossos antepassados, com uma malinha, muitos carimbos nos documentos e esperança de emprego, as ondas humanas atuais chegam aos países ricos com abrigo, saúde e educação providos pelo Estado de bem-estar social. Organizações supranacionais, como a própria União Europeia, também têm verbas para dar garantias inimagináveis pelos imigrantes do passado. O problema, como sabemos, é que o dinheiro não aparece magicamente nos cofres dos Estados ou seus avatares.
        (Vilma Gryzinski, Lotou ou ainda cabe mais? Veja, 26.07.2017. Adaptado)



Uma resposta de natureza política ao fluxo migratório atual apontado pela autora é
  • A: a alta lucratividade, de 390 milhões de dólares, do transporte de pessoas.
  • B: a eleição do presidente norte-americano Donald Trump.
  • C: os abusos praticados pelos envolvidos no comércio de imigrantes africanos.
  • D: o provimento de verbas da União Europeia para os imigrantes de outras épocas.
  • E: a violação de direitos essenciais à vida humana e a seu bem-estar.



 A quem pertence um país e quem tem o direito de morar nele? Com um passado incomparável e camadas históricas extraordinariamente variadas, inclusive em seus momentos de fluxo e refluxo populacional, a Itália já fechou o debate. A lotação está esgotada. Foram mais de 180000 pessoas, na maioria absoluta vindas da África, no ano passado. Até organizações humanitárias dizem que não dá mais para acomodar gente em cidadezinhas minúsculas, vilarejos medievais ou bairros distantes de uma metrópole como Roma.
      As ondas humanas criaram situações sem precedentes. As ONGs para as quais sempre cabem muitos mais tornaram-se colaboradoras dos traficantes que ganham com o comércio de gente, um escândalo ético espantoso. Começaram a fazer o bem e se transformaram em parte integrante de um processo de imensa perversidade, cujos promotores praticam abusos indescritíveis. Embora cruel, o sistema é de uma eficiência impressionante. Até os botes de borracha, cujos passageiros pagam para ser resgatados por navios de ONGs, da Marinha italiana ou de outros países europeus, são fabricados especificamente para esse tipo de transporte. Cada passagem custa por volta de 1500 euros, ou 5500 reais. O negócio foi calculado em 390 milhões de dólares no ano passado.
      A questão dos grandes deslocamentos humanos vindos do mundo pobre, encrencado, conflagrado ou simplesmente com menos benefícios sociais, em direção ao mundo rico, já provocou conhecidas reações políticas, das quais a mais estrondosa foi a eleição de Donald Trump. A palavra-chave no fenômeno atual é benefícios. Ao contrário dos imigrantes que vieram para o Novo Mundo, entre os quais tantos de nossos antepassados, com uma malinha, muitos carimbos nos documentos e esperança de emprego, as ondas humanas atuais chegam aos países ricos com abrigo, saúde e educação providos pelo Estado de bem-estar social. Organizações supranacionais, como a própria União Europeia, também têm verbas para dar garantias inimagináveis pelos imigrantes do passado. O problema, como sabemos, é que o dinheiro não aparece magicamente nos cofres dos Estados ou seus avatares.
        (Vilma Gryzinski, Lotou ou ainda cabe mais? Veja, 26.07.2017. Adaptado)



Um aspecto contraditório que a autora aponta na ação das ONGs, no contexto dos refugiados que chegam por mar à Itália, é que
  • A: o acolhimento sem limites acaba por incrementar a ação eticamente condenável de lucrar com o que acaba sendo um verdadeiro tráfico de pessoas.
  • B: a expectativa de colaborar com as populações acuadas encontra obstáculo no preço cobrado pelo transporte marítimo sem garantia de sucesso.
  • C: essas organizações não medem esforços para combater a ação dos comerciantes de gente, recusando-se a acolher os que pagam alto preço pela travessia.
  • D: discordar dos abusos praticados pelos traficantes não chega a ser uma ação efetiva, pois parte das ONGs não tem como fiscalizar o resgate dos imigrantes.
  • E: elas não abrem mão de agir para o bem dessas populações desassistidas, empregando, para isso, recursos vultosos de que não dispõem.

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