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Esta coisa é a mais difícil de uma pessoa entender. Insista. Não desanime. Parecerá óbvio. Mas é extremamente difícil de se saber dela.

Pois envolve o tempo. Nós dividimos o tempo quando ele na realidade não é divisível. Ele é sempre e imutável. Mas nós precisamos dividi-lo. E para isso criou-se uma coisa monstruosa: o relógio.

Não vou falar sobre relógios. Mas sobre um determinado relógio. O meu jogo é aberto: digo logo o que tenho a dizer e sem literatura. Este relatório é a antiliteratura da coisa.

O relógio de que falo é eletrônico e tem despertador. A marca é Sveglia, o que quer dizer “acorda”. Acorda para o que, meu Deus? Para o tempo. Para a hora. Para o instante. Esse relógio não é meu. Mas apossei-me de sua infernal alma tranquila.

Não é de pulso: é solto portanto. Tem dois centímetros e fica de pé na superfície da mesa. Eu queria que ele se chamasse Sveglia mesmo. Mas a dona do relógio quer que se chame Horácio. Pouco importa. Pois o principal é que ele é o tempo.

(LISPECTOR, Clarice. O relatório da coisa. In:

Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980, p. 75)

A coisa difícil de uma pessoa entender de que fala o narrador em seu relatório se evidencia em:
  • A: A marca é Sveglia, o que quer dizer “acorda”.
  • B: Pois o principal é que ele é o tempo.
  • C: Nós dividimos o tempo quando ele na realidade não é divisível.
  • D: Não vou falar sobre relógios.
  • E: Mas apossei-me de sua infernal alma tranquila.

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