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Um artigo sobre a vida eclesiástica trazia em seu texto três afirmações em sequência:
- Os religiosos levam uma vida sóbria e isenta de preocupações com a família;
- A vida sóbria e isenta de preocupações com a família a torna apta para trabalhos intelectuais;
- A aptidão para trabalhos intelectuais torna essa vida própria ao ensino.

A conclusão lógica que o artigo deve tirar dessas premissas é:
  • A: todos deviam levar uma vida como a dos religiosos;
  • B: os trabalhos intelectuais só devem ser feitos por religiosos;
  • C: a educação deve levar os alunos a uma vida sóbria;
  • D: a vida isenta de preocupações é própria para a educação;
  • E: os religiosos devem dedicar-se ao ensino.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

De acordo com o narrador, a justificativa para recontar a história de Gabriel García Márquez é
  • A: o aprendizado da antropofagia com Murilo Mendes.
  • B: a história original do conto ter sido escrita com sangue.
  • C: o conto pertencer a ele depois de tê-lo lido e devorado.
  • D: o caso de um homem afogado ter chamado sua atenção.
  • E: os livros serem feitos com carne e sangue de seus autores.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

No conto recontado, os ciúmes que o morto provocou nos maridos da vila foi motivado pelo fato de ele ter
  • A: chamado a atenção por ser muito alto.
  • B: vivido amores intensos e inesquecíveis.
  • C: navegado por mares e oceanos distantes.
  • D: realizado sonhos considerados impossíveis.
  • E: despertado nas mulheres sentimentos esquecidos.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

Que imagem ilustra a atmosfera vivida pelos moradores da vila antes do aparecimento do homem morto?
  • A: O novo dia já nascendo velho.
  • B: O mar depositando um corpo na areia.
  • C: O corpo sendo preparado para o sepultamento.
  • D: Os maridos observando as mulheres de fora da casa.
  • E: Os rostos das mulheres brilhando com a luz da alegria.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

Os habitantes da vila ficaram desapontados ao se depararem com o corpo depositado na areia por avaliarem que o episódio
  • A: provocaria ciúmes nos homens do vilarejo.
  • B: traria à lembrança sentimentos esquecidos.
  • C: causaria comoção entre os moradores da vila.
  • D: manteria a vida do vilarejo em sua rotina opaca.
  • E: exigiria a mobilização das mulheres para o enterro.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

A reescrita de “Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto” (parágrafo 2) que preserva o seu sentido no texto é:
  • A: Eu li e devorei, então agora é meu, se eu o reconto.
  • B: Eu li e devorei, pois agora é meu, enquanto eu o reconto.
  • C: Eu li e devorei, por isso agora é meu, então eu o reconto.
  • D: Eu li e devorei, mas agora é meu, à medida que eu o reconto.
  • E: Eu li e devorei, de modo que agora é meu, mas eu o reconto.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

O trecho do texto em que a vírgula tem a mesma função dos dois pontos empregados em “Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se fazer com eles: enterrar” (parágrafo 5) é:
  • A: “Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor.” (parágrafo 1)
  • B: “Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma estranha flutuando longe no mar.” (parágrafo 4)
  • C: “E o silêncio era grande enquanto o limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.” (parágrafo 5)
  • D: “Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao entrar em nossas casas.” (parágrafo 6)
  • E: “Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.” (parágrafo 7)

Em conformidade com o que prevê a norma-padrão, é obrigatório o uso do acento grave indicativo de crase na palavra destacada em:
  • A: O desapontamento misturado a tristeza recaiu sobre o povoado.
  • B: De fora da casa, os homens observavam a ação das mulheres.
  • C: Graças ao morto, o povoado voltou a viver verdadeiramente.
  • D: A sensação nova a qual vivenciaram era indescritível.
  • E: Vários corpos já chegaram a praias da vila.

O afogado mais bonito do mundo

Sou antropófago. Devoro livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.

É o caso do conto “O Afogado Mais Bonito do Mundo”, de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto.

É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava...

Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma
estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como
aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando,
esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o
desapontamento de todos: era um homem morto.

Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se
fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres
preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para
uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o
limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.

Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou:
“Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao
entrar em nossas casas. Ele é muito alto...”.

Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.

De novo o silêncio foi profundo, até que uma outra voz foi ouvida. Outra mulher... “Fico pensando em como teria sido a sua voz... Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.

De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher... “Essas mãos... Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”

Aí todas elas riram que riram, suas faces vermelhas, e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: sonhos esquecidos, que pensavam mortos, retornavam, cinzas virando fogo, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.

Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, nas mulheres que nunca haviam desejado.

A história termina dizendo que finalmente enterraram o morto. Mas a aldeia nunca mais foi a mesma.

ALVES, R. Sobre como da morte brota a vida. F. de São Paulo. Cotidiano. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 20 abr. 2023. Adaptado

O “enfado” (parágrafo 3) a que o autor faz referência diz respeito a uma rotina caracterizada pelo(a)
  • A: temor
  • B: apatia
  • C: atribulação
  • D: insegurança
  • E: desconfiança

A colocação do pronome oblíquo átono em destaque está em acordo com os ditames da norma-padrão escrita em:
  • A: Por que não surpreende-me a chegada do corpo?
  • B: A chegada do afogado trará-lhes lembranças antigas.
  • C: A mulher sonhou com aquelas mãos, que acariciavam-na.
  • D: Nos surpreendemos todos com a chegada da coisa à praia.
  • E: O morto vai despertar-me para novas emoções e sentimentos.

Exibindo de 2891 até 2900 de 24771 questões.