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      Se determinado efeito, lógico ou artístico, mais fortemente se obtém do emprego de um substantivo masculino apenso a substantivo feminino, não deve o autor hesitar em fazê-lo. Quis eu uma vez dar, em uma só frase, a ideia – pouco importa se vera ou falsa – de que Deus é simultaneamente o Criador e a Alma do mundo. Não encontrei melhor maneira de o fazer do que tornando transitivo o verbo “ser”; e assim dei à voz de Deus a frase:


      – Ó universo, eu sou-te,


      em que o transitivo de criação se consubstancia com o intransitivo de identificação.


      Outra vez, porém em conversa, querendo dar incisiva, e portanto concentradamente, a noção verbal de que certa senhora tinha um tipo de rapaz, empreguei a frase “aquela rapaz”, violando deliberadamente e justissimamente a lei fundamental da concordância.


      A prosódia, já alguém o disse, não é mais que função do estilo.


      A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela.


                                                                                                    (Fernando Pessoa. A língua portuguesa, 1999. Adaptado)



Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de colocação pronominal.
 





















  • A: A prosódia, já disse-o alguém, não é mais que função do estilo.
  • B: Se consubstancia o transitivo de criação com o intransitivo de identificação na frase: – Ó universo, eu sou-te.
  • C: Tendo referido-me a Deus simultaneamente como o Criador e a Alma do mundo, recorri à frase: – Ó universo, eu sou-te.
  • D: Sirvamo-nos da linguagem para quaisquer efeitos, sejam eles lógicos ou artísticos.
  • E: Para expressar minha ideia, juntariam-se o transitivo de criação com o intransitivo de identificação na frase.

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