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O carro do Beto tinha duas portas. A do passageiro não abria, então, a rota de entrada para todos era pelo lado do motorista. O banco do motorista não levantava para quem ia sentar atrás. Acomodar três pessoas exigia uma certa ginástica. Não era o veículo ideal para uma fuga de emergência, mas era o que tínhamos e, mais que isso, era o que garantia nossa liberdade e nossas infinitas possibilidades. Com ele, São Paulo era pequena para nós.

Eu tinha 16 anos, o Beto e a Solange um pouco mais do que eu. Eu acabara de voltar de um ano de intercâmbio em uma cidade no interior dos Estados Unidos e estava achando tudo muito moderno naquela São Paulo dos anos 80. O que levei comigo e trouxe de volta foi a trilha sonora: a discografia completa da Rita Lee. O programa daquele fim de semana seria uma homenagem a ela.

Pela lista telefônica, tinha descoberto o endereço do pai dela e decidi deixar uma frase pichada no muro da casa dele na Vila Mariana. Beto e Solange toparam na hora.

Tudo aconteceria de madrugada. Eles ficariam dentro do carro com o motor ligado. Eu desceria com o spray, escreveria a frase na parede, me jogaria pela janela carro adentro, o Beto acelerava e a gente se mandava. Os medos eram muitos. E foi com o coração aos pulos de terror e emoção que escrevi no muro branco: “Rita, pra você, a agilidade do gato e o brilho da estrela”. Minha mensagem adolescente de amor por Rita Lee estava registrada para toda a cidade ver.

Trinta e sete anos depois, fui com uns amigos ver uma exposição sobre a Rita Lee. Logo na entrada do museu, uma parede pintada de azul trazia a estampa da minha frase, letra por letra (acrescentaram as letras esses no “das estrelas”). Foi como se um raio tivesse me atingido na cabeça. A sensação me pareceu ter sido a mesma de quando escrevi no muro naquela madrugada: pernas bambas, coração acelerado, mãos tremendo. A minha frase na parede do museu!

Uma das monitoras da exposição quis saber o que acontecia. Eu contei a história. Ela se espantou, já que a exposição não trazia nenhuma explicação sobre a origem daquela frase. Não me importava: ela era minha e estava lá. Deparei-me outras vezes com o meu grafite. O dia do museu, porém, foi o mais emocionante. Não era só uma menção, era uma reprodução.

(Ana Ribeiro. Frase que pichei para Rita Lee reapareceu 37 anos depois em exposição. www1.folha.uol.com.br, 19.02.2022. Adaptado)

No trecho “Não me importava: ela era minha e estava lá” (6o parágrafo), os dois-pontos foram empregados para introduzir, em relação à informação que os antecede,
  • A: uma síntese.
  • B: uma explicação.
  • C: uma ressalva.
  • D: uma correção.
  • E: uma citação.

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