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                                      Sobre o ‘sobre’



    De um ano pra cá, comecei a ouvir frases do tipo “não é sobre opinião, é sobre respeito” ou “não é sobre direitos, é sobre deveres”.


    A primeira vez que me deparei com este novo uso do “sobre”, pensei que estavam falando “sobre” algum filme, livro ou peça de teatro. A respeito de “Superman I”, por exemplo, poderíamos dizer que “não é sobre superpoderes, é sobre amor”. Assim como “Casa de Bonecas”, do Ibsen, “não é sobre um casamento, é sobre a liberdade”. Prestando mais atenção, porém, percebi que o sentido era outro. Era o “sobre” como “ter a ver com”. Trata-se de uma tradução troncha de “it’s not about”, que os anglófonos usam a torto e a direito. Ou melhor, nós usamos torto, eles usam direito.


    Palavras são ferramentas, chaves que se encaixam perfeitamente nas delicadas fendas dos significados. Quando a gente usa a ferramenta errada, espana o parafuso. O que aumenta meu desconforto com o “sobre” é que, nas frases em que ele é empregado, tem sempre alguém nos dando uma lição e dizendo que não entendemos lhufas do assunto. É como se eu estivesse tentando aparafusar uma estante na parede, me afastassem da tarefa e assumissem o meu lugar usando uma faca de cozinha. Ou, para ligar a imagem à origem do problema: usando uma chave inglesa.


    Não quero parecer arrogante. “Não é sobre preciosismo”, eu diria, aderindo à moda, “é sobre lógica”. Há frases que fazem sentido, outras que não. Já está tão difícil nos entendermos em bom português, imagina com todo mundo usando faca em parafuso e desrosqueando porca com alicate: acabaremos por estropiar de vez a fragilíssima máquina da comunicação.
                                                                (Antônio Prata. Folha de S.Paulo. www.folha.uol.com.br. 29.10.2018. Adaptado)



Com a expressão “chave inglesa”, no terceiro parágrafo, o autor

  • A: defende a ideia de que a língua portuguesa dispõe de muito mais recursos de comunicação que a língua inglesa.
  • B: sugere que as pessoas que eventualmente empregam palavras ou frases de origem estrangeira são arrogantes.
  • C: frisa que há ideias que simplesmente não podem ser traduzidas do inglês para o português.
  • D: explicita seu ponto de vista terminantemente contra as teorias que endossam as recentes traduções de obras da língua inglesa.
  • E: reforça a crítica à inadequação do emprego do vocábulo “sobre” como uma tradução malfeita da construção inglesa “it’s not about”.

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