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Debaixo da ponte
Moravam debaixo da ponte. Oficialmente, não é lugar onde se more, porém eles moravam. Ninguém lhes cobrava aluguel, imposto predial, taxa de condomínio: a ponte é de todos, na parte de cima; de ninguém, na parte de baixo. Não pagavam conta de luz e gás porque luz e gás não consumiam. Não reclamavam da falta d’água, raramente observada por baixo de pontes. Problema de lixo não tinham; podia ser atirado em qualquer parte, embora não conviesse atirá-lo em parte alguma, se dele vinham muitas vezes o vestuário, o alimento, objetos de casa. Viviam debaixo da ponte, podiam dar esse endereço a amigos, receber amigos, fazer os amigos desfrutarem comodidades internas da ponte.
À tarde surgiu precisamente um amigo que morava nem ele mesmo sabia onde, mas certamente morava: nem só a ponte é lugar de moradia para quem não dispõe de outro rancho. Há bancos confortáveis nos jardins, muito disputados; a calçada, um pouco menos propícia; a cavidade na pedra, o mato. Até o ar é uma casa, se soubermos habitá-lo, principalmente o ar da rua. O que morava não se sabe onde vinha visitar os de debaixo da ponte e trazer-lhes uma grande posta de carne. (Carlos Drummond de Andrade. A bolsa e a vida. Adaptado)
É correto afirmar que, em sua crônica, Drummond
  • A: trata de fatos não condizentes com a realidade dos agrupamentos urbanos.
  • B: descreve aspectos da vida de moradores de rua, expondo suas carências.
  • C: aponta soluções que podem dar conforto aos desabrigados no dia a dia.
  • D: faz uma crítica explícita à política de abandono dos moradores de rua.
  • E: comenta hábitos de desabrigados, desabonando-os, pelo desleixo.

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