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Texto 12A1AAA
1 — A polícia parisiense — disse ele — é extremamente
hábil à sua maneira. Seus agentes são perseverantes,
engenhosos, astutos e perfeitamente versados nos
4 conhecimentos que seus deveres parecem exigir de modo
especial. Assim, quando o delegado G... nos contou,
pormenorizadamente, a maneira pela qual realizou suas
7 pesquisas no Hotel D..., não tive dúvida de que efetuara
uma investigação satisfatória (...) até o ponto a que chegou
o seu trabalho.
10 — Até o ponto a que chegou o seu trabalho? —
perguntei.
— Sim — respondeu Dupin. — As medidas adotadas
13 não foram apenas as melhores que poderiam ser tomadas, mas
realizadas com absoluta perfeição. Se a carta estivesse
depositada dentro do raio de suas investigações, esses rapazes,
16 sem dúvida, a teriam encontrado.
Ri, simplesmente — mas ele parecia haver dito tudo
aquilo com a máxima seriedade.
19 — As medidas, pois — prosseguiu —, eram boas em
seu gênero, e foram bem executadas: seu defeito residia em
serem inaplicáveis ao caso e ao homem em questão. Um certo
22 conjunto de recursos altamente engenhosos é, para o delegado,
uma espécie de leito de Procusto, ao qual procura adaptar à
força todos os seus planos. Mas, no caso em apreço, cometeu
25 uma série de erros, por ser demasiado profundo ou demasiado
superficial. (...) E, se o delegado e toda a sua corte têm
cometido tantos enganos, isso se deve (...) a uma apreciação
28 inexata, ou melhor, a uma não apreciação da inteligência
daqueles com quem se metem. Consideram engenhosas apenas
as suas próprias ideias e, ao procurar alguma coisa que se ache
31 escondida, não pensam senão nos meios que eles próprios
teriam empregado para escondê-la. Estão certos apenas num
ponto: naquele em que sua engenhosidade representa fielmente
34 a da massa; mas, quando a astúcia do malfeitor é diferente da
deles, o malfeitor, naturalmente, os engana. Isso sempre
acontece quando a astúcia deste último está acima da deles e,
37 muito frequentemente, quando está abaixo. Não variam seu
sistema de investigação; na melhor das hipóteses, quando são
instigados por algum caso insólito, ou por alguma recompensa
40 extraordinária, ampliam ou exageram os seus modos de agir
habituais, sem que se afastem, no entanto, de seus princípios.
(...) Você compreenderá, agora, o que eu queria dizer ao
43 afirmar que, se a carta roubada tivesse sido escondida dentro
do raio de investigação do nosso delegado — ou, em outras
palavras, se o princípio inspirador estivesse compreendido nos
46 princípios do delegado —, sua descoberta seria uma questão
inteiramente fora de dúvida. Este funcionário, porém, se
enganou por completo, e a fonte remota de seu fracasso reside
49 na suposição de que o ministro é um idiota, pois adquiriu
renome de poeta. Segundo o delegado, todos os poetas são
idiotas — e, neste caso, ele é apenas culpado de uma non
52 distributio medii, ao inferir que todos os poetas são idiotas.
— Mas ele é realmente poeta? — perguntei. — Sei
que são dois irmãos, e que ambos adquiriram renome nas
55 letras. O ministro, creio eu, escreveu eruditamente sobre o
cálculo diferencial. É um matemático, e não um poeta.
— Você está enganado. Conheço-o bem. E ambas as
58 coisas. Como poeta e matemático, raciocinaria bem; como
mero matemático, não raciocinaria de modo algum, e ficaria,
assim, à mercê do delegado.
61 — Você me surpreende — respondi — com essas
opiniões, que têm sido desmentidas pela voz do mundo.
Naturalmente, não quererá destruir, de um golpe, ideias
64 amadurecidas durante tantos séculos. A razão matemática é há
muito considerada como a razão par excellence.

Edgar Allan Poe. A carta roubada. In: Histórias extraordinárias. Victor
Civita, 1981. Tradução de Brenno Silveira e outros.

No que se refere à tipologia e aos sentidos do texto 12A1AAA, julgue o próximo item.

Infere-se das falas de Dupin que a opinião do delegado a respeito dos poetas foi determinante para que ele não encontrasse “a carta roubada”.
  • A: Certo
  • B: Errado

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