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LADAINHA
Por que o raciocínio,
Os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado,
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
Mais fáceis que um sorriso.
Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial
Dando-lhe um ritmo extra-corporal?
Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.
Ó máquina, orai por nós.

(Cassiano Ricardo. Jeremias sem chorar.)

Sabendo-se que o poema foi publicado pela primeira vez em 1963, é correto afirmar que o eu lírico
  • A: trata a máquina como um antagonista do ser humano, que se tornará robotizado e dependente dela para o que precisar fazer.
  • B: antevê na máquina um engenho capaz de sobrepujar o ser humano, dando a ela estatuto de objeto de devoção.
  • C: anuncia a máquina como uma ameaça à humanidade, que poderá ser condenada ao ostracismo e à insensibilidade.
  • D: propõe que se use a máquina como força de produção capaz de prover as necessidades do homem, poupando-o de sofrer.
  • E: celebra a invenção da máquina como meio de superar crises, em razão da possibilidade de mecanização de ações.

LADAINHA

Por que o raciocínio,
Os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado,
O cérebro eletrônico, o músculo
mecânico
Mais fáceis que um sorriso.
Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial
Dando-lhe um ritmo extra-corporal?
Por que levantar o braço
para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.
Ó máquina, orai por nós.

(Cassiano Ricardo. Jeremias sem chorar.)

Na terceira estrofe, repete-se a construção “a máquina o fará por nós”. Nela, o pronome destacado equivale a
  • A: “ele” e faz referência aos termos das frases precedentes.
  • B: “aquilo” e faz referência a “nós”.
  • C: “se” e faz referência à palavra “máquina”.
  • D: “isso” e faz referência às ações que o precedem.
  • E: “ela” e faz referência à palavra “máquina”.

A secretária
Procuro um documento de que preciso com urgência. Não o encontro, mas me demoro a decifrar minha própria letra nas notas de um caderno esquecido que os misteriosos movimentos da papelada pelas minhas gavetas fizeram vir à tona.

Isso é que dá encanto ao costume de a gente ter tudo desarrumado. Tenho uma secretária que é um gênio nesse sentido. Perdeu, outro dia, cinquenta páginas de uma tradução.

Tem um extraordinário senso divinatório, que a leva a mergulhar no fundo do baú do quarto da empregada os papéis mais urgentes; rasga apenas o que é estritamente necessário guardar, mas conserva com rigoroso carinho o recibo da prestação de um aparelho de rádio que comprei em 1941. Isso
me fornece algumas emoções líricas inesperadas; quem não se comove de repente quando está procurando um aviso de banco e vê uma conta de hotel de Teresina de quatro anos atrás, com todos os vales das despesas extraordinárias, inclusive uma garrafa de água mineral?

Não importa que ela faça sumir, por exemplo, minha carteira de identidade. Afinal, estou cansado de saber que sou eu mesmo; não me venham lembrar essa coisa, que entristece e desanima. Prefiro lembrar esse telefone de Buenos Aires que anotei, com letra nervosa, em um pedaço de maço de cigarros, ou guardar com a maior gravidade esse bilhete que diz: “Estive aqui e não te encontrei. Passo amanhã. S.” Quem é esse “S” ou essa “S” e por que, e onde e quando procurou minha humilde pessoa? Que sei?

Há papéis de visão amarga, que eu deveria ter rasgado dez anos atrás; mas a mão caprichosa de minha jovem secretária, que preservou carinhosamente esse bilhete, não será a própria mão da consciência a me apontar esse remorso velho, a me dizer que devo lembrar o quanto posso ser inconsciente e egoísta?

Meus arquivos, na sua desordem, não revelam apenas a imaginação desordenada e o capricho estranho da minha secretária. Revelam a desarrumação mais profunda, que não é de meus papéis, é de minha vida.
(Rubem Braga, O homem rouco. Adaptado)

A descrição das ações da secretária pelo narrador é feita em tom
  • A: depreciativo, apontando nela defeitos que ele considera imperdoáveis.
  • B: divertido, qualificando-a com expressões que contrastam com as ações dela.
  • C: grave, destacando atitudes da moça que ele entende desabonadoras.
  • D: condescendente, negando-se a tolerar os deslizes da moça.
  • E: irritado, mostrando disposição de dispensar os serviços da jovem.

A secretária
Procuro um documento de que preciso com urgência. Não o encontro, mas me demoro a decifrar minha própria letra nas notas de um caderno esquecido que os misteriosos movimentos da papelada pelas minhas gavetas fizeram vir à tona.

Isso é que dá encanto ao costume de a gente ter tudo desarrumado. Tenho uma secretária que é um gênio nesse sentido. Perdeu, outro dia, cinquenta páginas de uma tradução.

Tem um extraordinário senso divinatório, que a leva a mergulhar no fundo do baú do quarto da empregada os papéis mais urgentes; rasga apenas o que é estritamente necessário guardar, mas conserva com rigoroso carinho o recibo da prestação de um aparelho de rádio que comprei em 1941. Isso
me fornece algumas emoções líricas inesperadas; quem não se comove de repente quando está procurando um aviso de banco e vê uma conta de hotel de Teresina de quatro anos atrás, com todos os vales das despesas extraordinárias, inclusive uma garrafa de água mineral?

Não importa que ela faça sumir, por exemplo, minha carteira de identidade. Afinal, estou cansado de saber que sou eu mesmo; não me venham lembrar essa coisa, que entristece e desanima. Prefiro lembrar esse telefone de Buenos Aires que anotei, com letra nervosa, em um pedaço de maço de cigarros, ou guardar com a maior gravidade esse bilhete que diz: “Estive aqui e não te encontrei. Passo amanhã. S.” Quem é esse “S” ou essa “S” e por que, e onde e quando procurou minha humilde pessoa? Que sei?

Há papéis de visão amarga, que eu deveria ter rasgado dez anos atrás; mas a mão caprichosa de minha jovem secretária, que preservou carinhosamente esse bilhete, não será a própria mão da consciência a me apontar esse remorso velho, a me dizer que devo lembrar o quanto posso ser inconsciente e egoísta?

Meus arquivos, na sua desordem, não revelam apenas a imaginação desordenada e o capricho estranho da minha secretária. Revelam a desarrumação mais profunda, que não é de meus papéis, é de minha vida.
(Rubem Braga, O homem rouco. Adaptado)

Na passagem do quarto parágrafo – Não importa que ela faça sumir, por exemplo, minha carteira de identidade.
Afinal, estou cansado de saber que sou eu mesmo; não me venham lembrar essa coisa, que entristece e desanima. – a expressão em destaque é uma referência bem-humorada do narrador
  • A: ao sumiço de sua carteira de identidade.
  • B: à constatação de que ele sabe quem ele é.
  • C: ao problema causado pela perda da carteira.
  • D: à falta de cuidado da secretária.
  • E: ao desejo de esquecer a perda da carteira.

A secretária
Procuro um documento de que preciso com urgência. Não o encontro, mas me demoro a decifrar minha própria letra nas notas de um caderno esquecido que os misteriosos movimentos da papelada pelas minhas gavetas fizeram vir à tona.

Isso é que dá encanto ao costume de a gente ter tudo desarrumado. Tenho uma secretária que é um gênio nesse sentido. Perdeu, outro dia, cinquenta páginas de uma tradução.

Tem um extraordinário senso divinatório, que a leva a mergulhar no fundo do baú do quarto da empregada os papéis mais urgentes; rasga apenas o que é estritamente necessário guardar, mas conserva com rigoroso carinho o recibo da prestação de um aparelho de rádio que comprei em 1941. Isso
me fornece algumas emoções líricas inesperadas; quem não se comove de repente quando está procurando um aviso de banco e vê uma conta de hotel de Teresina de quatro anos atrás, com todos os vales das despesas extraordinárias, inclusive uma garrafa de água mineral?

Não importa que ela faça sumir, por exemplo, minha carteira de identidade. Afinal, estou cansado de saber que sou eu mesmo; não me venham lembrar essa coisa, que entristece e desanima. Prefiro lembrar esse telefone de Buenos Aires que anotei, com letra nervosa, em um pedaço de maço de cigarros, ou guardar com a maior gravidade esse bilhete que diz: “Estive aqui e não te encontrei. Passo amanhã. S.” Quem é esse “S” ou essa “S” e por que, e onde e quando procurou minha humilde pessoa? Que sei?

Há papéis de visão amarga, que eu deveria ter rasgado dez anos atrás; mas a mão caprichosa de minha jovem secretária, que preservou carinhosamente esse bilhete, não será a própria mão da consciência a me apontar esse remorso velho, a me dizer que devo lembrar o quanto posso ser inconsciente e egoísta?

Meus arquivos, na sua desordem, não revelam apenas a imaginação desordenada e o capricho estranho da minha secretária. Revelam a desarrumação mais profunda, que não é de meus papéis, é de minha vida.
(Rubem Braga, O homem rouco. Adaptado)

A afirmação de que a secretária tem “senso divinatório” (terceiro parágrafo) e guarda “com a maior gravidade” um bilhete (quarto parágrafo) significa que ela tem
  • A: perspicácia de adivinhar e guarda com seriedade um bilhete.
  • B: características divinas e guarda com cuidado um bilhete.
  • C: juízo sensato e guarda com parcimônia um bilhete.
  • D: capacidade de julgamento e guarda com preocupação um bilhete.
  • E: coerência superior e guarda com rigor um bilhete.

As expressões destacadas nos trechos – “... rasga apenas o que é estritamente necessário guardar” e “... uma conta de hotel de Teresina, de quatro anos atrás, com todos os vales das despesas extraordinárias” – têm sentido contrário, respectivamente, em:
  • A: decididamente desimportante e ganhos improváveis.
  • B: claramente desnecessário e custos inesperados.
  • C: amplamente dispensável e receitas habituais.
  • D: certamente inútil e economias controladas.
  • E: exatamente impreciso e arrecadações comuns.

A secretária
Procuro um documento de que preciso com urgência. Não o encontro, mas me demoro a decifrar minha própria letra nas notas de um caderno esquecido que os misteriosos movimentos da papelada pelas minhas gavetas fizeram vir à tona.

Isso é que dá encanto ao costume de a gente ter tudo desarrumado. Tenho uma secretária que é um gênio nesse sentido. Perdeu, outro dia, cinquenta páginas de uma tradução.

Tem um extraordinário senso divinatório, que a leva a mergulhar no fundo do baú do quarto da empregada os papéis mais urgentes; rasga apenas o que é estritamente necessário guardar, mas conserva com rigoroso carinho o recibo da prestação de um aparelho de rádio que comprei em 1941. Isso
me fornece algumas emoções líricas inesperadas; quem não se comove de repente quando está procurando um aviso de banco e vê uma conta de hotel de Teresina de quatro anos atrás, com todos os vales das despesas extraordinárias, inclusive uma garrafa de água mineral?

Não importa que ela faça sumir, por exemplo, minha carteira de identidade. Afinal, estou cansado de saber que sou eu mesmo; não me venham lembrar essa coisa, que entristece e desanima. Prefiro lembrar esse telefone de Buenos Aires que anotei, com letra nervosa, em um pedaço de maço de cigarros, ou guardar com a maior gravidade esse bilhete que diz: “Estive aqui e não te encontrei. Passo amanhã. S.” Quem é esse “S” ou essa “S” e por que, e onde e quando procurou minha humilde pessoa? Que sei?

Há papéis de visão amarga, que eu deveria ter rasgado dez anos atrás; mas a mão caprichosa de minha jovem secretária, que preservou carinhosamente esse bilhete, não será a própria mão da consciência a me apontar esse remorso velho, a me dizer que devo lembrar o quanto posso ser inconsciente e egoísta?

Meus arquivos, na sua desordem, não revelam apenas a imaginação desordenada e o capricho estranho da minha secretária. Revelam a desarrumação mais profunda, que não é de meus papéis, é de minha vida.
(Rubem Braga, O homem rouco. Adaptado)

Assinale a alternativa com o enunciado, baseado em informações do texto, que apresenta redação de acordo com a norma-padrão de concordância e de emprego do pronome relativo.
  • A: Há mais de um arquivo meu os quais mostram, em sua desordem, não apenas a imaginação desordenada e o capricho estranho da minha secretária.
  • B: São as mãos da consciência que sempre me aponta esse remorso velho, dizendo-me que estou tendo atitudes o mais possível inconsciente e egoísta.
  • C: Para minha secretária, não basta as mudanças as quais ela faz nos meus documentos; ela toma decisões que a faz parecer dona da casa.
  • D: Tenho uma jovem secretária cuja genialidade em manter tudo desarrumado a fez perder, faz alguns dias, cinquenta páginas de uma tradução.
  • E: Estava ali bem à vista os recibos de prestação de um rádio comprado em 1941, achado incrível, onde me levou a sentir emoções líricas inesperadas.

Observe as relações de sentido que a preposição destacada estabelece nas passagens a seguir.
• Procuro um documento de que preciso com urgência.
• ... rasga apenas o que é estritamente necessário guardar, mas conserva com rigoroso carinho o recibo da prestação ...
• ... uma conta de hotel de Teresina de quatro anos atrás, com todos os vales das despesas extraordinárias...

Essas relações de sentido são, correta e respectivamente, de
  • A: modo, companhia e companhia.
  • B: modo, modo e companhia.
  • C: modo, modo e lugar.
  • D: tempo, modo e modo.
  • E: tempo, companhia e lugar.

Assinale a alternativa com os verbos que preenchem, correta e respectivamente, as lacunas dos enunciados
– Movimentos da papelada pelas minhas gavetas trarão surpresas, se minhas anotações _________ à tona. /
Não se surpreendam quando_________ uma conta exorbitante de hotel e alguém __________ que vocês a paguem.
  • A: virem ... verem ... propor
  • B: virem ... virem ... propor
  • C: vierem ... verem ... propuser
  • D: vierem ... virem ... propuser
  • E: vierem ... virem ... propor

A alternativa em que a regência nominal está de acordo com a norma-padrão é:
  • A: Procuro um documento que tenho necessidade com urgência.
  • B: Tenho uma certa demora por decifrar a minha própria letra
  • C: Isso é que dá encanto ao hábito a ter tudo desarrumado.
  • D: Minha secretária é perita de fazer sumirem documentos.
  • E: Talvez eu tenha certeza de que minha vida é desarrumada.

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