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Foram encontradas 24771 questões.
1 Como se pode imaginar, não foi o latim clássico,
dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas
classes romanas mais abastadas, que penetrou na Península
4 Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras,
que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se
7 às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando
origem aos dialetos que viriam a se chamar genericamente
de romanços ou romances (do latim romanice, isto é,
10 à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os
romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais,
13 dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas:
francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno,
rético, sardo etc.
16 Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação,
ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia
19 as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se
22 em uma expansão de conquistas que, à imagem do que
Roma fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões:
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia
25 e Brasil, para citar uns poucos exemplos em três continentes.
Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se
independentes — o Brasil no século XIX, as demais
28 no século XX —, mas a língua de comunicação foi mantida
e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil,
Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
31 São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo
pela nova ortografia: como usar as regras do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item seguinte.


No texto, é apresentada, em ordem cronológica crescente, uma sucessão de fatos relacionados à história da formação da língua portuguesa.
  • A: Certo
  • B: Errado

1 Como se pode imaginar, não foi o latim clássico,
dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas
classes romanas mais abastadas, que penetrou na Península
4 Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras,
que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se
7 às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando
origem aos dialetos que viriam a se chamar genericamente
de romanços ou romances (do latim romanice, isto é,
10 à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os
romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais,
13 dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas:
francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno,
rético, sardo etc.
16 Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação,
ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia
19 as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se
22 em uma expansão de conquistas que, à imagem do que
Roma fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões:
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia
25 e Brasil, para citar uns poucos exemplos em três continentes.
Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se
independentes — o Brasil no século XIX, as demais
28 no século XX —, mas a língua de comunicação foi mantida
e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil,
Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
31 São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.


Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo
pela nova ortografia: como usar as regras do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item seguinte.


A correção gramatical e a coerência do texto seriam preservadas caso a forma verbal “levou” (l.23) fosse substituída por levaram.
  • A: Certo
  • B: Errado

1 Como se pode imaginar, não foi o latim clássico,
dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas
classes romanas mais abastadas, que penetrou na Península
4 Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras,
que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se
7 às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando
origem aos dialetos que viriam a se chamar genericamente
de romanços ou romances (do latim romanice, isto é,
10 à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os
romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais,
13 dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas:
francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno,
rético, sardo etc.
16 Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação,
ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia
19 as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se
22 em uma expansão de conquistas que, à imagem do que
Roma fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões:
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia
25 e Brasil, para citar uns poucos exemplos em três continentes.
Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se
independentes — o Brasil no século XIX, as demais
28 no século XX —, mas a língua de comunicação foi mantida
e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil,
Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
31 São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.


Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo
pela nova ortografia: como usar as regras do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item seguinte.


Mantendo-se os sentidos originais do texto, o vocábulo “remotas” (l.23) poderia ser substituído tanto por longínquas quanto por ignotas.
  • A: Certo
  • B: Errado

1 Como se pode imaginar, não foi o latim clássico,
dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas
classes romanas mais abastadas, que penetrou na Península
4 Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras,
que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se
7 às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando
origem aos dialetos que viriam a se chamar genericamente
de romanços ou romances (do latim romanice, isto é,
10 à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os
romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais,
13 dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas:
francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno,
rético, sardo etc.
16 Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação,
ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia
19 as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se
22 em uma expansão de conquistas que, à imagem do que
Roma fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões:
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia
25 e Brasil, para citar uns poucos exemplos em três continentes.
Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se
independentes — o Brasil no século XIX, as demais
28 no século XX —, mas a língua de comunicação foi mantida
e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil,
Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
31 São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo
pela nova ortografia: como usar as regras do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item seguinte.


No contexto em que estão inseridas, as palavras “neolatinas” e “românicas”, ambas na linha 13, podem ser consideradas sinônimos.
  • A: Certo
  • B: Errado

1 Como se pode imaginar, não foi o latim clássico,
dos grandes escritores romanos e latinos e falado pelas
classes romanas mais abastadas, que penetrou na Península
4 Ibérica e nos demais espaços conquistados pelo Império
Romano. Foi o latim popular, falado pelas tropas invasoras,
que fez esse papel. Essa variante vulgar sobrepôs-se
7 às línguas dos povos dominados e com elas caldeou-se, dando
origem aos dialetos que viriam a se chamar genericamente
de romanços ou romances (do latim romanice, isto é,
10 à moda dos romanos).
No século V d.C., o Império Romano ruiu e os
romanços passaram a diferenciar-se cada vez mais,
13 dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas:
francês, provençal, espanhol, português, catalão, romeno,
rético, sardo etc.
16 Séculos mais tarde, Portugal fundou-se como nação,
ao mesmo tempo em que o português ganhou seu estatuto
de língua, da seguinte forma: enquanto Portugal estabelecia
19 as suas fronteiras no século XIII, o galego-português
patenteava-se em forma literária.
Cerca de três séculos depois, Portugal lançou-se
22 em uma expansão de conquistas que, à imagem do que
Roma fizera, levou a língua portuguesa a remotas regiões:
Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cingapura, Índia
25 e Brasil, para citar uns poucos exemplos em três continentes.
Muito mais tarde, essas colônias tornaram-se
independentes — o Brasil no século XIX, as demais
28 no século XX —, mas a língua de comunicação foi mantida
e é hoje oficial em oito nações independentes: Brasil,
Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
31 São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Instituto Antônio Houaiss. José Carlos de Azevedo (Coord.). Escrevendo
pela nova ortografia: como usar as regras do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa. São Paulo: Publifolha, 2008, p. 16-7 (com adaptações).

Com relação às ideias e aos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item seguinte.



A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados caso se substituísse a palavra “genericamente” (l.8) por comumente.
  • A: Certo
  • B: Errado

Texto 13A1AAA
1 No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição
de condenados foi-se extinguindo. Em algumas dezenas
4 de anos, desapareceu o corpo como alvo principal da repressão
penal: o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado
simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
7 dado como espetáculo. Ficou a suspeita de que tal rito que dava
um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria,
10 acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos
queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência dos
crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juízes
13 com assassinos, invertendo no último momento os papéis,
fazendo do supliciado um objeto de piedade e de admiração.
A punição vai-se tornando a parte mais velada do
16 processo penal, provocando várias consequências: deixa o
campo da percepção quase diária e entra no da consciência
abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não à sua
19 intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar
o homem do crime, e não mais o abominável teatro.
Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados
22 corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código.
Porém julgam-se também as paixões, os instintos, as anomalias,
as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente
25 ou de hereditariedade. Punem-se as agressões, mas, por meio
delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo, as
perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e
28 desejos. Dir-se-ia que não são eles que são julgados; se são
invocados, é para explicar os fatos a serem julgados e
determinar até que ponto a vontade do réu estava envolvida no
31 crime. As sombras que se escondem por trás dos elementos da
causa é que são, na realidade, julgadas e punidas.
O juiz de nossos dias — magistrado ou jurado — faz
34 outra coisa, bem diferente de “julgar”. E ele não julga mais
sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena,
prolifera toda uma série de instâncias anexas. Pequenas justiças
37 e juízes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento
principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da
aplicação das penas, educadores, funcionários da administração
40 penitenciária fracionam o poder legal de punir. Dir-se-á,
no entanto, que nenhum deles partilha realmente do direito de
julgar; os peritos não intervêm antes da sentença para fazer um
43 julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. Todo o
aparelho que se desenvolveu há anos, em torno da aplicação
das penas e de seu ajustamento aos indivíduos, multiplica as
46 instâncias da decisão judiciária, prolongando-a muito além da
sentença.


Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 8-26 (com adaptações)

Com relação aos aspectos linguísticos e aos sentidos do texto 13A1AAA, julgue o item a seguir.

O autor do texto reflete sobre a evolução histórica da justiça: a punição de condenados, que, de início, ocorria mediante dores físicas passou, a partir dos princípios do século XIX, a ter caráter mais moral, submetendo os réus a sofrimentos mais sutis, mais velados.
  • A: Certo
  • B: Errado

Texto 13A1AAA
1 No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição
de condenados foi-se extinguindo. Em algumas dezenas
4 de anos, desapareceu o corpo como alvo principal da repressão
penal: o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado
simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
7 dado como espetáculo. Ficou a suspeita de que tal rito que dava
um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria,
10 acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos
queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência dos
crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juízes
13 com assassinos, invertendo no último momento os papéis,
fazendo do supliciado um objeto de piedade e de admiração.
A punição vai-se tornando a parte mais velada do
16 processo penal, provocando várias consequências: deixa o
campo da percepção quase diária e entra no da consciência
abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não à sua
19 intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar
o homem do crime, e não mais o abominável teatro.
Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados
22 corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código.
Porém julgam-se também as paixões, os instintos, as anomalias,
as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente
25 ou de hereditariedade. Punem-se as agressões, mas, por meio
delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo, as
perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e
28 desejos. Dir-se-ia que não são eles que são julgados; se são
invocados, é para explicar os fatos a serem julgados e
determinar até que ponto a vontade do réu estava envolvida no
31 crime. As sombras que se escondem por trás dos elementos da
causa é que são, na realidade, julgadas e punidas.
O juiz de nossos dias — magistrado ou jurado — faz
34 outra coisa, bem diferente de “julgar”. E ele não julga mais
sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena,
prolifera toda uma série de instâncias anexas. Pequenas justiças
37 e juízes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento
principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da
aplicação das penas, educadores, funcionários da administração
40 penitenciária fracionam o poder legal de punir. Dir-se-á,
no entanto, que nenhum deles partilha realmente do direito de
julgar; os peritos não intervêm antes da sentença para fazer um
43 julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. Todo o
aparelho que se desenvolveu há anos, em torno da aplicação
das penas e de seu ajustamento aos indivíduos, multiplica as
46 instâncias da decisão judiciária, prolongando-a muito além da
sentença.


Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 8-26 (com adaptações)

Com relação aos aspectos linguísticos e aos sentidos do texto 13A1AAA, julgue o item a seguir.



No longo período que finaliza o primeiro parágrafo do texto, as formas verbais no gerúndio relacionam-se, por coesão, ao termo “tal rito” (l.7).
  • A: Certo
  • B: Errado

Texto 13A1AAA
1 No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição
de condenados foi-se extinguindo. Em algumas dezenas
4 de anos, desapareceu o corpo como alvo principal da repressão
penal: o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado
simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
7 dado como espetáculo. Ficou a suspeita de que tal rito que dava
um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria,
10 acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos
queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência dos
crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juízes
13 com assassinos, invertendo no último momento os papéis,
fazendo do supliciado um objeto de piedade e de admiração.
A punição vai-se tornando a parte mais velada do
16 processo penal, provocando várias consequências: deixa o
campo da percepção quase diária e entra no da consciência
abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não à sua
19 intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar
o homem do crime, e não mais o abominável teatro.
Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados
22 corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código.
Porém julgam-se também as paixões, os instintos, as anomalias,
as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente
25 ou de hereditariedade. Punem-se as agressões, mas, por meio
delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo, as
perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e
28 desejos. Dir-se-ia que não são eles que são julgados; se são
invocados, é para explicar os fatos a serem julgados e
determinar até que ponto a vontade do réu estava envolvida no
31 crime. As sombras que se escondem por trás dos elementos da
causa é que são, na realidade, julgadas e punidas.
O juiz de nossos dias — magistrado ou jurado — faz
34 outra coisa, bem diferente de “julgar”. E ele não julga mais
sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena,
prolifera toda uma série de instâncias anexas. Pequenas justiças
37 e juízes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento
principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da
aplicação das penas, educadores, funcionários da administração
40 penitenciária fracionam o poder legal de punir. Dir-se-á,
no entanto, que nenhum deles partilha realmente do direito de
julgar; os peritos não intervêm antes da sentença para fazer um
43 julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. Todo o
aparelho que se desenvolveu há anos, em torno da aplicação
das penas e de seu ajustamento aos indivíduos, multiplica as
46 instâncias da decisão judiciária, prolongando-a muito além da
sentença.


Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 8-26 (com adaptações)

Com relação aos aspectos linguísticos e aos sentidos do texto 13A1AAA, julgue o item a seguir.

Embora tanto o primeiro quanto o segundo parágrafo do texto tratem de acontecimentos passados, o emprego do presente no segundo parágrafo tem o efeito de aproximar os acontecimentos mencionados ao tempo atual, o presente.
  • A: Certo
  • B: Errado

Texto 13A1AAA
1 No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição
de condenados foi-se extinguindo. Em algumas dezenas
4 de anos, desapareceu o corpo como alvo principal da repressão
penal: o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado
simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
7 dado como espetáculo. Ficou a suspeita de que tal rito que dava
um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria,
10 acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos
queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência dos
crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juízes
13 com assassinos, invertendo no último momento os papéis,
fazendo do supliciado um objeto de piedade e de admiração.
A punição vai-se tornando a parte mais velada do
16 processo penal, provocando várias consequências: deixa o
campo da percepção quase diária e entra no da consciência
abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não à sua
19 intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar
o homem do crime, e não mais o abominável teatro.
Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados
22 corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código.
Porém julgam-se também as paixões, os instintos, as anomalias,
as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente
25 ou de hereditariedade. Punem-se as agressões, mas, por meio
delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo, as
perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e
28 desejos. Dir-se-ia que não são eles que são julgados; se são
invocados, é para explicar os fatos a serem julgados e
determinar até que ponto a vontade do réu estava envolvida no
31 crime. As sombras que se escondem por trás dos elementos da
causa é que são, na realidade, julgadas e punidas.
O juiz de nossos dias — magistrado ou jurado — faz
34 outra coisa, bem diferente de “julgar”. E ele não julga mais
sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena,
prolifera toda uma série de instâncias anexas. Pequenas justiças
37 e juízes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento
principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da
aplicação das penas, educadores, funcionários da administração
40 penitenciária fracionam o poder legal de punir. Dir-se-á,
no entanto, que nenhum deles partilha realmente do direito de
julgar; os peritos não intervêm antes da sentença para fazer um
43 julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. Todo o
aparelho que se desenvolveu há anos, em torno da aplicação
das penas e de seu ajustamento aos indivíduos, multiplica as
46 instâncias da decisão judiciária, prolongando-a muito além da
sentença.


Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 8-26 (com adaptações)

Com relação aos aspectos linguísticos e aos sentidos do texto 13A1AAA, julgue o item a seguir.



A coerência textual seria prejudicada se, após “teatro” (l.20), fossem inseridos dois-pontos e o trecho a mecânica exemplar da punição muda as engrenagens, como conclusão das consequências enumeradas, dado o emprego, nesse trecho, de linguagem figurada, incompatível com o gênero do texto.
  • A: Certo
  • B: Errado

Texto 13A1AAA
1 No fim do século XVIII e começo do XIX, a despeito
de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição
de condenados foi-se extinguindo. Em algumas dezenas
4 de anos, desapareceu o corpo como alvo principal da repressão
penal: o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado
simbolicamente no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto,
7 dado como espetáculo. Ficou a suspeita de que tal rito que dava
um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias:
igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria,
10 acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos
queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência dos
crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juízes
13 com assassinos, invertendo no último momento os papéis,
fazendo do supliciado um objeto de piedade e de admiração.
A punição vai-se tornando a parte mais velada do
16 processo penal, provocando várias consequências: deixa o
campo da percepção quase diária e entra no da consciência
abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade, não à sua
19 intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar
o homem do crime, e não mais o abominável teatro.
Sob o nome de crimes e delitos, são sempre julgados
22 corretamente os objetos jurídicos definidos pelo Código.
Porém julgam-se também as paixões, os instintos, as anomalias,
as enfermidades, as inadaptações, os efeitos de meio ambiente
25 ou de hereditariedade. Punem-se as agressões, mas, por meio
delas, as agressividades, as violações e, ao mesmo tempo, as
perversões, os assassinatos que são, também, impulsos e
28 desejos. Dir-se-ia que não são eles que são julgados; se são
invocados, é para explicar os fatos a serem julgados e
determinar até que ponto a vontade do réu estava envolvida no
31 crime. As sombras que se escondem por trás dos elementos da
causa é que são, na realidade, julgadas e punidas.
O juiz de nossos dias — magistrado ou jurado — faz
34 outra coisa, bem diferente de “julgar”. E ele não julga mais
sozinho. Ao longo do processo penal, e da execução da pena,
prolifera toda uma série de instâncias anexas. Pequenas justiças
37 e juízes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento
principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da
aplicação das penas, educadores, funcionários da administração
40 penitenciária fracionam o poder legal de punir. Dir-se-á,
no entanto, que nenhum deles partilha realmente do direito de
julgar; os peritos não intervêm antes da sentença para fazer um
43 julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes. Todo o
aparelho que se desenvolveu há anos, em torno da aplicação
das penas e de seu ajustamento aos indivíduos, multiplica as
46 instâncias da decisão judiciária, prolongando-a muito além da
sentença.


Michel Foucault. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel
Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, p. 8-26 (com adaptações)

Com relação aos aspectos linguísticos e aos sentidos do texto 13A1AAA, julgue o item a seguir.


A substituição de “Porém” (l.23) por Entretanto manteria a correção gramatical e os sentidos originais do texto.
  • A: Certo
  • B: Errado

Exibindo de 3241 até 3250 de 24771 questões.